top of page

CENA 1. CASARÃO ANTIGO. EXTERIOR. DIA.

 

PLANO GERAL de um enorme casarão instalado no meio de uma gigantesca floresta de pinheiros. O casarão é todo pintado de branco, tem uma fachada chamativa, com algumas pilastras de pedra. Um veículo azul escuro vem por uma estradinha no meio da floresta e estaciona na frente do casarão. Lawrence desce do lado do motorista e tira os óculos escuros. Ele contorna o veículo e abre a porta do outro lado, por onde sai Letitia, com feição amedrontada. CLOSE nos saltos altos de Letitia pisando no chão. Letitia olha o casarão com curiosidade. Lawrence dá o braço para ela e eles vão caminhando em direção a porta principal.

 

LETITIA – (PARA O MARIDO) Tem certeza que quer fazer isso?

 

Lawrence não responde. A porta da casa se abre sozinha e eles entram.

CENA 12. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE LETITIA. INTERIOR. DIA.

 

Letitia e Dianne sentadas na cama, vendo algumas roupas de bebê espalhadas pelo colchão. Dianne pega um par de meias azuis e mostra para Letitia.

 

DIANNE – Costurei noite passada. O que achou? (SORRI) Vamos torcer para que ele seja menino. Agora que Ben degringolou, Lawrence precisa de um homem para continuar seu legado.

 

LETITIA – (SORRISO FALSO) Achei lindo Dianne, você tem mãos de fada para costura.

 

DIANNE – (SE LEVANTA) Isso é verdade. Mamãe sempre me disse que eu seria boa nas mãos. E eu realmente fui, me casei duas vezes. E acredite, tricô não foi meu carro chefe.

 

Letitia suspira e encosta a cabeça na cabeceira da cama. Lawrence bate na porta e entra.

 

LAWRENCE – O que estão fazendo?

 

DIANNE – (ANIMADA) Entre meu filho! Eu e Letitia estamos dando uma olhada nas roupas que eu separei pro bebê.

 

LAWRENCE – (CRUZA OS BRAÇOS) Mais já? Letitia ainda está com 1 mês mamãe, é cedo.

 

DIANNE – Quanto mais rápido nos prepararmos melhor. Não é Letitia?

 

Letitia ergue a cabeça e sinaliza positivamente para Dianne, sem mostrar animação.

 

LAWRENCE – Mamãe pode dar licença para que eu e Letitia conversemos?

 

DIANNE – Claro! Eu já estava de saída.

 

Dianne esfrega a mão nas costas do filho e sai do quarto. Assim que a porta se bate, Lawrence põe as mãos nos bolsos e caminha até a ponta da cama da esposa. Letitia olha para ele.

 

LETITIA – O que foi?

 

LAWRENCE – Eu quero saber o que está acontecendo.

 

LETITIA – Não tem nada acontecendo. Por que acha isso?

 

LAWRENCE – Por que você acaba de descobrir que vai esperar um filho e age como se isso fosse porcaria nenhuma.

 

LETITIA – (RI) Ah, claro... Você acha que eu deva me animar em ter um outro filho seu? É isso?

 

LAWRENCE – Bom, eu sou seu marido. Você sempre sonhou em engravidar novamente. Qual é o problema agora?

 

LETITIA – Você quer saber mesmo Lawrence? De verdade? Pois então eu vou te falar.

 

Letitia se levanta e vai até o marido, o encarando.

 

LETITIA – A verdade é que eu te odeio. Eu sinto asco de você. Sinto nojo de quando me toca, de quando fala comigo. Esse bebê é fruto de uma situação que você me forçou a fazer se aproveitando num momento de fragilidade.

 

LAWRENCE – (RÁPIDO) Foi quando você assassinou a namoradinha da sua amada Violet pra me defender. Já se esqueceu disso?

 

LETITIA – Não! Lógico que não! E você sabe muito bem por que eu fiz. Eu fiz pra proteger nossa família de ter um pai como você exposto para toda a imprensa. E não sabe como eu me arrependo. Eu devia ter deixado essa família se afundar na merda.

 

LAWRENCE – Como pode falar assim de alguém que te deu a vida?

 

LETITIA – Não, não. Você não me deu a vida. Você me prendeu numa redoma de vidro.

 

Letitia puxa a blusa e mostra as marcas no pulso para Lawrence, com fúria.

 

LETITIA – Isso é culpa sua. Você me obrigou a entrar na sua organização prometendo que me daria tudo. Ledo engano. Você me privou de tudo. Você me colocou uma coleira e me fez de seu animal particular. Por isso é que eu abomino e amaldiçoo essa criança que está em meu ventre. Ela nunca deveria ter existido. Por causa dela eu... eu sou obrigada a ficar do seu lado.

 

LAWRENCE – Já terminou?

 

LETITIA – (SUSPIRA) Já. Falei tudo que tinha pra falar. Agora se puder, saia do meu quarto.

 

LAWRENCE – Eu vou sair sim, mas não sem antes te contar uma história que eu jurei pra mim mesmo que levaria pra cova.

 

Letitia se vira de costas pro marido e caminha até o espelho de sua penteadeira.

 

LAWRENCE – Eu acho que existem muito mais coisas sobre a morte de Amy que você sequer imagina Letitia. E que somente eu posso te contar.

 

CLOSE em Letitia, surpresa. Lawrence sorri.

 

LAWRENCE – A sua filhinha... A Amy pela qual você vem chorando a 25 anos... Ela não morreu no parto. Muito pelo contrário. Ela viveu. (PAUSA) Eu fiz questão de mata-la afogada numa banheira.

 

Letitia se vira, chocada. Seus olhos se enchem de lágrimas.

 

LETITIA – (PASMA) Isso é mentira! Amy nasceu morta! Essa é a verdade!

 

LAWRENCE – Essa foi a verdade que eu te contei. Eu fiz seu parto. Só estávamos eu e você naquela cabana. A menina nasceu viva Letitia, mas eu a matei. Eu acabei com sua vida.

 

LETITIA – (COMEÇA A CHORAR) Você é pior do que eu pensava Lawrence... Você... Você matou a sua própria filha. E por quê? Pra me maltratar? Pra me ver chorar? (DEIXA LÁGRIMAS ROLAREM) A minha Amy...

 

LAWRENCE – Isso mesmo, a SUA Amy. Por que ela nunca foi minha.

 

LETITIA – (ASSUSTADA) O que?

 

LAWRENCE – Surpresa, querida? (SORRI) Eu sempre soube de tudo Letitia. Sempre soube que Amy nunca foi minha filha. Que ela era filha do seu amante, do Nick.

 

SUPER CLOSE no rosto petrificado de Letitia.

 

CENA 13. GALERIA DE ARTE. QUARTO. INTERIOR. DIA.

 

FADE IN no rosto de Letitia, mais jovem, com os olhos fechados, a boca aberta, gemendo, sentindo muito prazer. Em cima dela está um homem de meia idade, cabelos pretos, nariz grosso, bastante suado, fazendo movimentos debaixo do lençol. O homem ergue a cabeça e começa a gemer alto, até que desaba na cama e fica de bruços ao lado de Letitia, que também está exausta. Ele olha para ela e sorri.

 

HOMEM – Oh Deus... Você é maravilhosa!

 

LETITIA – (OFEGANTE) Acho que foi a melhor trepada que eu já dei na minha vida.

 

Letitia dá um beijo na boca do homem. O homem levanta, pega um maço de cigarros no criado mudo ao lado da cama e vai até a janela do quarto fumar. Ele acende um dos cigarros e dá uma tragada. Letitia se levanta, enrolada nos lençóis, e vai até ele. Ela pega o cigarro e também fuma, jogando a fumaça pra fora da janela.

 

LETITIA – Se lembrou de alguma coisa? (PEGA NO CABELO DELE) Ficou tão sério de repente.

 

HOMEM – Eu apenas lembrei de como eu te amo Letitia.

 

LETITIA – (SORRI) Nick... eu também te amo. Você sabe disso.

 

NICK – Mas você é uma mulher casada Letitia. Você é esposa do meu melhor amigo. Precisamos dar um jeito nessa situação.

 

LETITIA – (SÉRIA) É, eu sei. Você sabe que o que eu mais quero é me separar do Lawrence e seguir a minha vida contigo.

 

NICK – E com nossa filha.

 

LETITIA – Nick...

 

Letitia caminha pelo quarto, preocupada. Nick joga o cigarro pela janela.

 

NICK – Amy é minha filha Letitia. Você não pode continuar mentindo para o Lawrence. Um dia... ele vai descobrir. E você sabe do que ele é capaz de fazer.

 

LETITIA – Eu morro de medo dele fazer algo de grave contra você. Eu não vou suportar. Eu morro Nick, eu não sei viver sem você.

 

NICK – Então resolva essa situação de uma vez por todas. Separe-se do seu marido. Não podemos mais viver como amantes. Eu quero ser o sue homem de verdade. E formar a família que você merece.

 

Nick beija a testa de Letitia e sai para outro ambiente de seu quarto. CÂMERA fica em Letitia, bastante preocupada.

 

CENA 14. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE LETITIA. INTERIOR. DIA.

 

Lawrence anda em volta do quarto enquanto Letitia desaba na cama, perplexa, com o rosto avermelhado.

 

LAWRENCE – Eu não podia admitir criar a filha de outro homem, ainda mais do meu melhor amigo. Por isso eu a matei e inventei que havia nascido morta. Foi tudo uma farsa.

 

LETITIA – (GAGUEJA) Você... É um monstro...

 

LAWRENCE – Eu sou pior do que um monstro. Você sabia que seria minha pra sempre, não lembra do nosso pacto? Se você tentasse fugir de mim, pagaria um preço caro.

 

LETITIA – (ALTO) Eu amava o Nick!

 

LAWRENCE – Quando você achou que podia fugir com seu amante e ser feliz ao lado dele e da sua filha, eu sabia que precisava agir.

 

LETITIA – (FECHA OS OLHOS) Como Nick morreu?

 

LAWRENCE – (COM CALMA) Um freio cortado. Foi bastante simples. O suficiente para ele ir até o inferno sem passagem de volta. Recorda de como você sofreu com a morte dele? Hum? Eu sempre soube de tudo Letitia. Vocês pensavam que estavam me enganando, mas eu fui mais além. Eu acabei com a festinha de vocês.

 

Letitia abre os olhos e olha para Lawrence, incrédula. Ele está com um sorriso sádico na boca.

 

LAWRENCE – Portanto preste bastante atenção. Se você tentar fugir de mim mais uma vez, ou machucar o meu filho, eu juro por Deus que eu faço com a Violet pior do que enfiá-la dentro de um buraco lotado de terra. Você é minha. É meu sangue que corre nas suas veias. (PAUSADAMENTE) Pertencemos um ao outro para sempre. (SORRI) Tenha um ótimo dia.

 

Lawrence abre a porta do quarto e sai. Letitia permanece em cima da cama, pálida, com o rosto molhado das lágrimas, um olhar vago, sem expressão. CLOSE em Letitia.

 

CENA 15. APARTAMENTO DE DANIELLE. SALA. INTERIOR. DIA.

 

Som de campainha. FADE IN em Danielle, vestindo um roupão, abrindo a porta de seu apartamento. Ela dá de cara com Violet e Mabel. Mabel e Danielle se encaram.

 

DANIELLE – Você aqui?

 

MABEL – Nós precisamos conversar Danielle.

 

DANIELLE – (OLHA PARA VIOLET) E você… Não estou entendo… O que fazem na minha porta?

 

VIOLET – O assunto é sério, podemos entrar?

 

DANIELLE – Eu tenho que ir trabalhar, não posso falar agora. Por favor, saiam.

 

MABEL – Não seja idiota, Danielle. Você sabe muito bem o por que estamos aqui e está inventando uma desculpa para não falar com a gente.

 

DANIELLE – O que querem? Falem de uma vez.

 

VIOLET – A pauta é Lawrence Addams.

 

CLOSE em Danielle, surpresa. Receosa, ela se afasta e deixa Mabel e Violet entrarem. Danielle fecha a porta.

 

VIOLET – (OLHA EM VOLTA) Amável lugar que você tem aqui.

 

DANIELLE – (NERVOSA) Obrigada.

 

MABEL – Vamos parar de rodeios, Danielle. Estamos aqui por causa do Lawrence. Nós queremos colocar esse canalha na cadeia, e pra isso precisamos de sua ajuda.

 

DANIELLE – Como conseguiram meu endereço?

 

MABEL – (PÕE A MÃO NOS SEIOS) Contatos no mundinho pantanoso.

 

VIOLET – Danielle, você precisa nos ouvir.

 

DANIELLE – Eu não quero ouvir nada que seja sobre o doutor Lawrence. Ele é um homem bom, me deu uma oportunidade, eu jamais faria qualquer coisa que o colocasse na cadeia. Além do mais, seu caráter é impecável.

 

MABEL – (ALTO) Você sabe muito bem o que ele fez comigo e com meu filho naquela clínica. Como pode aceitar fazer parte dessa máfia? Você tem que depor na cadeia e entregar todas as provas que mostrem o sádico que ele é.

 

DANIELLE – (BAIXA A CABEÇA) Eu não posso.

 

VIOLET – Por que não? Ele te ameaça é isso? Ele tem algo contra você?

 

DANIELLE – (EMOCIONADA) Ele sequestrou meu filho.

 

Danielle derrama algumas lágrimas e olha para Mabel e Violet.

 

MABEL – (EM OFF) E agora? O que faremos?

 

CENA 16. CALÇADA. EXTERIOR. DIA.

 

Violet e Mabel caminham enquanto conversam.

 

VIOLET – Agora devemos torcer para que Danielle caia em si e veja que não pode continuar refém as ameaças do Lawrence.

 

MABEL – Ela disse que ele sequestrou o filho dela, Violet. Isso é sério!

 

VIOLET – Não sabemos se é verdade. Pode ser apenas um blefe.

 

MABEL – Quanto mais eu descubro sobre o Lawrence, mas eu o temo.

 

VIOLET – Alguma coisa me diz que Danielle ainda vai perceber que o melhor a se fazer é falar a verdade.

 

CENA 17. FLORESTA. MATA FECHADA. EXTERIOR. DIA.

 

Um cervo está pastando na frente de uma grande árvore. Ele ouve alguns barulhos de passos e levanta a cabeça, assustado. CLOSE em Ben atrás de um arbusto, segurando um arco e flecha. Ele mira contra o cervo e atira. A flecha voa e perfura o pescoço do cervo, que cai morto no chão. Ben se aproxima do animal e puxa a flecha. CLOSE em Ben.

 

CENA 18. MANSÃO DOS ADDAMS. SALA. INTERIOR. DIA.

 

Letitia, jovem, está parada na frente da escada da mansão da família ao lado de uma senhora um pouco gorda, de cabelos escuros, com uma roupa discreta e escura.

 

LETITIA – (GRITA) Ben, desça aqui por favor.

 

Em alguns instantes, Ben, apenas um garoto de um metro de altura, desce da escada e vai até a frente da mãe e da senhora. Ele ajeita o pequeno terno que está vestindo e passa a mão pelo cabelo cheio de gel.

 

LETITIA – Queria que você conhecesse a nossa nova governanta. Senhorita Karen McCullen.

 

BEN – (SORRI) Olá, senhorita McCullen.

 

KAREN – (ADMIRADA) Mas vejam que rapaz mais bonito.

 

Karen se agacha na frente de Ben e alisa seu rosto, com os olhos brilhando.

 

KAREN – É um prazer enorme te conhecer. Você me parece ser um rapaz muito educado.

 

LETITIA – A partir de hoje a senhorita McCullen vai cuidar de você, Ben.

 

KAREN – Oh Ben eu tenho tantas coisas parta te ensinar. Você será como meu filho. Tenho certeza que esse é o início de uma longa amizade.

 

CENA 19. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE KAREN. INTERIOR. NOITE.

 

A porta está entreaberta. O pequeno Ben coloca o olho pela fresta para ver lá dentro. Não há ninguém. Apenas barulho de chuveiro.

 

BEN – (ENTRANDO) Senhorita McCullen?

 

Ben entra no quarto e vê a cama de Karen toda arrumada. A mala com as roupas da criada está no canto do local. Ben se vira para a porta do banheiro.

 

KAREN – (EM OFF) Eu estou aqui... No banheiro...

 

Ben se aproxima da porta do banheiro e coloca a mão na maçaneta.

 

CENA 20. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE KAREN. BANHEIRO. INTERIOR. NOITE.

 

P.V. de Ben. Ele entra no banheiro e vê que Karen está tomando banho com a porta do box fechada. A toalha está pendurada num gancho ao lado do box.

 

KAREN – (EM OFF) Benjamin? É você?

 

Karen abre a porta do box e fica inteiramente nua na frente de Ben. Ela passa sabão pelo corpo e a água vai escorrendo até o ralo.

 

KAREN – (ERGUE A MÃO) Vem tomar banho com a titia vem. Eu tenho tantas coisas gostosas pra te mostrar.

 

Ben caminha até mais a frente e segura na mão de Karen. CLOSE na empregada sorrindo para ele, com tom de malícia.

 

CENA 21. FLORESTA. CABANA. COZINHA. INTERIOR. DIA.

 

Tempos atuais. Ben na frente do fogão, em transe, olhando fixamente para dentro de uma panela com água. Ele deixa uma lágrima escorrer pelo canto do olho e dá um tapa na pela, com ódio. A água cai por cima dele e molha todo o chão do local.

 

BEN – Merda!

 

Ben pega um pano de prato e seca algumas partes do corpo. Ele tira a camisa e passa o pano na barriga. Ouve-se alguns gemidos vindos do quarto ali da frente. Ben larga o pano de prato no chão e vai caminhando até o quarto. FOCO no pano de prato no chão.

CENA 3. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE LETITIA. INTERIOR. DIA.

 

CLOSE no rosto adormecido de Letitia. Ela abre os olhos e levanta a cabeça. ABRE plano do quarto. Letitia se senta na cama e fica surpresa ao ver um berço de bebê montado no centro do local. Letitia se levanta, vai até o berço e toca nele, bastante emocionada.

 

CENA 4. MANSÃO DOS ADDAMS. SALA DE JANTAR. INTERIOR. DIA.

 

Lawrence, Dianne e Cotton sentados em torno da mesa, tomando café na manhã. Cotton está com um jornal aberto. Dianne puxa o jornal dele.

 

COTTON – Mãe?!

 

DIANNE – Já cansei de te dizer que não devemos ler na mesa. (LARGA O JORNAL EMBAIXO DA MESA) Mais educação, rapaz.

 

Letitia entra na sala de jantar e se senta ao lado do marido, bastante séria. Lawrence olha para ela.

 

LAWRENCE – Gostou da surpresa que eu deixei no seu quarto?

 

LETITIA – (SURPRESA) Foi você?

 

LAWRENCE – Claro, eu sou o pai desse filho que você está gerando. Pensou que seria quem?

 

LETITIA – (SUSPIRA) Ninguém. Falando nisso, eu quero que você tire aquele berço do meu quarto.

 

LAWRENCE – E por que?

 

LETITIA – (ENCARA) Por que eu não quero nada que venha de você. E você sabe muito bem por que.

 

DIANNE – Vamos acalmar os ânimos. Eu sei que, como todo casal normal, vocês passam por problemas, mas respeitem pelo menos o horário de café.

 

LAWRENCE – Desculpe mamãe.

 

LETITIA – (PEGA A XÍCARA) Não consegui pregar o olho a noite inteira pensando no Ben e onde ele possa estar.

 

LAWRENCE – Eu não tive coragem de atender o telefone desde ontem a noite. Já devo ter perdido metade dos meus pacientes por causa desse escândalo.

 

DIANNE – Você precisa concertar isso meu filho, da maneira que sempre fez. O nome da nossa família pode ir para as ruinas por causa dos atos do seu filho.

 

LAWRENCE – Eu sei mamãe, mas infelizmente não posso fazer nada a não ser me lamentar. Ben é um caso perdido.

 

CENA 5. CASA DOS FLORRICK. FRENTE. EXTERIOR. DIA.

 

Dois carros da polícia na frente da casa dos Florrick. Kendra desce de um dos veículos e entra na residência.

 

CENA 6. CASA DOS FLORRICK. SALA. INTERIOR. DIA.

 

Wayne e Sarah no sofá, abraçados, bastante nervosos. Kendra de pé na frente deles, usando luvas de borracha. O policial Larry atrás de Kendra.

 

SARAH – (NERVOSA) Vocês descobriram alguma coisa delegada? Alguma pista para onde aquele monstro levou nosso filho?

 

KENDRA – Por enquanto nada. Mas já bloqueamos todas as saídas da cidade. Se Ben planeja fugir, o pegaremos de qualquer maneira. Acredite.

 

WAYNE – Você precisa fazer alguma coisa. Não pode deixar nosso filho querido nas mãos daquele louco. Eu sei lá o que ele pode fazer.

 

KENDRA – Confie em mim, eu vou trazer Ryan de volta a vocês. E vou prender Ben Addams.

 

SARAH – Estamos contando com a sua ajuda.

 

Kendra sorri. Larry se aproxima da delegada e sussurra alguma coisa em seu ouvido.

 

KENDRA – (PARA WAYNE E SARAH) Volto já.

 

E Kendra sai acompanhada de Larry. Sarah se abraça no marido e deixa uma lágrima escorrer pelo canto do olho.

 

CENA 7. CASA DOS FLORRICK. GARAGEM. INTERIOR. DIA.

 

Kendra entra na garagem acompanhada de Larry e vê a equipe da perícia recolhendo vestígios da mensagem deixada escrita na parede.

 

KENDRA – Já descobriram o que pode ser? Sangue? Ou alguma tinta?

 

LARRY – Provavelmente sangue. Mas não podemos afirmar se do menino ou do Ben ou de outra pessoa.

 

KENDRA – Isso não vai ser necessário pra minha investigação. Ben raptou Ryan e é tudo que sabemos agora. Precisamos é descobrir para onde ele foi e impedi-lo de cometer mais crimes.

 

LARRY – A senhora acha que ele matou o menino?

 

KENDRA – (CRUZA OS BRAÇOS) Eu não sei Larry, eu sinceramente não sei. Vamos torcer pra que o garoto ainda esteja vivo.

 

LARRY – Vamos retornar a delegacia?

 

KENDRA – Pode ir, eu vou depois. Quero conversar mais um pouco com Wayne e Sarah. Acho que eles precisam de uma palavra de amizade nesse momento.

 

CENA 8. FLORESTA. CABANA. EXTERIOR. DIA.

 

PLANO GERAL de uma modesta cabana no meio de uma extensa floresta. A moradia é de madeira e tem uma pequena área na frente. CLOSE na fumaça saindo da chaminé.

 

CENA 9. FLORESTA. CABANA. QUARTO. INTERIOR. DIA.

 

P.V. de uma pessoa acordando aos poucos. Sua visão é embaçada, não consegue saber onde está. Lentamente, o rosto de Ben toma forma na tela e sorri para a pessoa.

 

BEN – Bom dia, dorminhoco.

 

Ryan arregala os olhos e tenta se mover. Ele está deitado em uma cama com os braços e pernas atados por cordas. Ben está na ponta da cama olhando para ele.

 

RYAN – (NERVOSO) Você?

 

Ryan olha em volta, totalmente perdido. Ben sorri e caminha pelo quarto.

 

BEN – Eu sei o que deve estar se perguntando... Onde estamos... Estamos num lugar seguro Ryan. Ninguém vai nos encontrar aqui.

 

RYAN – Por que eu estou preso? (GRITA) Me solta! Eu quero minha família!

 

BEN – Me desculpe dizer isso dessa forma, mas você nunca mais vai ver sua família.

 

RYAN – (OFEGANTE) O que está dizendo? O que vai fazer comigo? Você não pode me manter aqui!

 

BEN – (AMEAÇADOR) Ah eu posso. Eu posso e eu vou. Eu te disse que você era meu Ryan. E agora, vamos finalmente pertencer um ao outro até que a morte nos separe.

 

RYAN – (ASSUSTADO) O que você está falando?

 

BEN – Você não entende o que está acontecendo? Eles descobriram sobre mim, meu amor. Todos sabem quem eu sou. Todos sabem o que eu faço. E estão atrás de mim. (RI) Aquela delegada achou que podia me pegar... Coitada. Eu sou mais esperto que todos eles juntos.

 

RYAN – (ENCHE OS OLHOS DE LÁGRIMAS) Por favor Ben, se você me ama de verdade, me deixe ir. Eu não mereço viver dessa maneira. Eu tenho apenas 12 anos de idade, eu... (CHORA) Por que eu? Por que essa obsessão comigo?

 

BEN – (APONTA) Por que eu quero. (BATE PALMAS) Muito bem, eu vou sair e volto em alguns minutos. Tenho que preparar nosso almoço.

 

RYAN – (GRITA) Socorro!

 

BEN – (SORRI) Tolinho. Você acha que alguém vai te ouvir aqui no meio do nada? (PAUSA) Escute Ryan, esse é o nosso final. Não tem como nenhum de nós sair vivo dessa história. Até que a morte nos separe, lembra?

 

Ben se aproxima do rosto de Ryan e tenta beijá-lo na boca. Ryan vira o rosto, com nojo dele. Ben dá um tapa na cara do menino, irritado, e sai do quarto batendo a porta. CLOSE em Ryan.

 

CENA 10. APARTAMENTO DE VIOLET. SALA. INTERIOR. DIA.

 

Mabel sentada no sofá, com os dois braços apoitados nos joelhos. Violet se senta na frente dela, receosa.

 

VIOLET – Nós precisamos pensar em uma maneira de juntar provas contra esse cara.

 

MABEL – Mas como faremos isso? Ele é muito esperto, não deixa nenhum rastro.

 

VIOLET – Precisamos de alguém do lado dele. Alguém que esteja disposto a entrega-lo pra polícia. Alguém que tenha provas dos procedimentos de tortura ocorridos dentro daquela clínica.

 

MABEL – (PENSA) Espere um minuto…

 

VIOLET – Lembrou de alguém?

 

MABEL – Danielle… A enfermeira que trabalha para ele… Ela sabe de tudo que ele faz. Ela faz parte da organização, seja lá o que seja.

 

VIOLET – E você acha que ela estaria disponível para nos ajudar?

 

MABEL – Muito difícil. Ela é fiel ao Lawrence.

 

VIOLET – Mas não custa tentar. Sabe onde ela mora? Podíamos ir falar com ela. Quem sabe ela também não seja mais uma vítima dele…

 

MABEL – Aquela vez que eu estava internada na clínica, sendo aterrorizada pelo monstro, eu acho que ouvi uma conversa entre os dois…

 

VIOLET – Tente se lembrar do que ouviu. Precisamos do endereço dessa Danielle o mais rápido possível.

 

MABEL – Eu posso fazer minhas ligações. O homem que me agenciava pode descobrir sobre ela em dois estalos.

 

Violet concorda. Mabel se sente tonta e põe a mão na cabeça. Violet a segura.

 

VIOLET – O que houve?

 

MABEL – (FECHA OS OLHOS) Estou zonza, me sentindo enjoada…

 

VIOLET – Oh meu Deus, está acontecendo novamente. Quer ir para um hospital?

 

MABEL – Não, vou melhorar. Isso é normal no início da gravidez, só preciso me deitar.

 

VIOLET – Eu acho absurdamente errado você esconder do Cotton que esteja grávida dele. Ele é o pai, Mabel. Merece saber.

 

MABEL – Eu não posso falar nada. Você sabe o que Lawrence fez com meu primeiro filho? Ele tirou de mim. Se eu falar ao Cotton… eu posso perder meu bebê novamente. Essa criança é a minha esperança Violet.

 

VIOLET – Eu não podia ter envolvido você nisso. O Lawrence é perigoso, posso cuidar dele sozinha. Vá atrás do Cotton e forme uma família. Tenha seu filho em paz.

 

MABEL – Não! Eu já te disse, eu preciso te ajudar.

 

Mabel olha para Violet com confiança. Violet concorda com a cabeça.

 

CENA 11. IGREJA. ALTAR. INTERIOR. DIA.

 

Cotton de joelhos no altar da Igreja, com as duas mãos entrelaçadas. Ele ergue a cabeça e vê a escultura de Jesus Cristo na parede. Cotton dá um suspiro fundo e fecha os olhos.

1.09 - O QUE NOS TORNAMOS

INTERVALO COMERCIAL

INTERVALO COMERCIAL

CENA 22. FLORESTA. CABANA. QUARTO. INTERIOR. DIA.

 

Ryan amarrado de bruços na cama, pelado. Ben em cima dele, também pelado, fazendo sexo. Ben vai penetrando seu órgão genital no ânus de Ryan e faz movimentos de vai e vem com força. Ele se segura nos ombros do menino e geme alto. Ryan dá gritos de dor, sem conseguir aguentar. Ben aumenta o ritmo da penetração e dá um gemido alto, longo, e dá um pequeno tapa no rosto de Ryan, que afunda o rosto no colchão, acabado. Ben se levanta e veste sua cueca que estava no chão.

 

BEN – Como foi pra você? (SORRI) Pra mim foi perfeito meu amor. Eu não disse que você ia se acostumar? (RI) Sabe o que é mais irônico Ryan? Tudo de melhor entre nós sempre acontece numa cabana no meio da floresta.

 

Ben arruma o pênis dentro da cueca e pega sua camisa no chão. Ryan continua sem dizer uma palavra. Ben veste a camisa e se senta na beira da cama.

 

BEN – Algum problema? Você não gostou? Eu fui muito forte com você, não fui? Me perdoe meu amor... mas meu apetite anda insaciável.

 

RYAN – (BALBUCIA) Me mata... Desgraçado... Me mata...

 

BEN – (SE LEVANTA) Ah isso eu vou fazer, e será breve. Eu vou te matar. E depois que eu fizer isso, eu também vou me matar. Será assim que iremos fazer. Nós vamos descansar em paz juntinhos.

 

Ryan geme e tenta se mover da cama, sem sucesso.

 

BEN – Fique tranquilo Ryan, não vai doer nada. Pelo contrário, vai ser prazeroso. Você não vai sofrer. Eu prometo. (PAUSA) Depois eu volto para limpar a bagunça que deixei em você.

 

Ben sorri para Ryan e sai do quarto. Ouve-se o barulho da chave trancando a porta. CLOSE em Ryan, abatido.

 

CENA 23. IGREJA. SACRISTIA. INTERIOR. DIA.

 

Cotton sentado em um longo sofá de couro, lendo uma passagem da Bíblia. Por um instante, Cotton se distrai na leitura e ergue o rosto, pensativo, e olha para o horizonte.

 

CENA 24. CENTRAL PARK. EXTERIOR. DIA.

 

CÂMERA aérea mostra Cotton, com mais ou menos 18 anos, deitado na grama, com o rosto iluminado pelo sol. Ao lado dele uma garota também da mesma idade, de cabelos castanhos claros.

 

COTTON – Você não sabe como eu adoro ficar aqui deitado olhando esse sol. E tudo fica mais lindo se eu estou ao seu lado, Fallon.

 

FALLON – (SORRI) Eu também me sinto completa com você Cotton.

 

Fallon se levanta e se senta. Cotton apoia a cabeça no braço e olha para ela.

 

COTTON – Mas você não parece tão animada quanto eu.

 

FALLON – (CABEÇA BAIXA) Briguei com meus pais noite passada. Eles querem que eu vá para Paris estudar balé numa universidade.

 

COTTON – E você vai?

 

FALLON – Não, é claro que não. Esse foi o motivo da briga. (PAUSA) Eu jamais me afastaria de você. Eu te amo.

 

COTTON – (SORRI) Eu também te amo muito.

 

FALLON – Agora eu não sei o que vai acontecer. Estou perdida. Ainda bem que você me entende e sabe do que eu preciso. (SUSPIRA) E a sua família? Como ficou a história do celibato?

 

COTTON – (SE SENTA) Minha mãe ainda quer que eu vá, mas eu não posso te deixar. Não posso abandonar minha vida por uma fé que eu não acredito.

 

FALLON – Eu acho que vivemos em dois mundos que estão caindo sob nossas cabeças.

 

COTTON – Que tal fazermos uma promessa, meu amor?

 

FALLON – (CURIOSA) Promessa?

 

COTTON – De nunca nos separarmos. De ficarmos juntos para sempre, até morrermos. O que acha?

 

FALLON – (SE ANIMA) Eu topo!

 

COTTON – Então você promete?

 

FALLON – (CONCORDA) Prometo.

 

COTTON – (SORRIDENTE) Eu nunca vou me afastar de você. Nunca. Nossas famílias podem dizer o que quiser, mas nosso amor vai passar por cima de tudo. Nós iremos vencer.

 

E Cotton segura o rosto de Fallon, apaixonado. Eles trocam olhares por alguns segundos e se beijam. CLOSE no beijo dos dois.

 

CENA 25. IGREJA. SACRISTIA. INTERIOR. DIA.

 

Cotton continua sentado no sofá. Ele fecha a Bíblia e se levanta, estressado. Dianne bate na porta e entra na sacristia, surpreendendo Cotton.

 

COTTON – Mamãe? O que a senhora está fazendo aqui?

 

DIANNE – Eu estava passando e decidi vim rezar um pouco pela alma do seu sobrinho. Achei que precisava te ver. Está tudo bem?

 

COTTON – (ARREDIO) Está sim.

 

DIANNE – (ESTRANHA) No que estava pensando? Sim, por que há claramente algo te deixando perturbado.

 

COTTON – (SUSPIRA) Eu estava pensando no passado, só isso.

 

DIANNE – (SORRI) Como as coisas eram diferentes, não? Eu me lembro quando seu pai ainda era vivo. Tom era um homem tão forte, tão decidido.

 

COTTON – Eu não estava me lembrando exatamente dele. Mas sim da Fallon. Lembra dela?

 

DIANNE – (FECHA O ROSTO) Como não lembrar? A mulher que quase te levou para a ruína.

 

COTTON – Por que diz isso mamãe? Eu era apaixonado pela Fallon. Nós planejávamos uma vida juntos. Até que ela simplesmente sumiu e eu decidi entrar para o celibato.

 

DIANNE – Que história comovente. Quase nos faz chorar, não é?

 

COTTON – Até hoje eu me pergunto sobre o que aconteceu para Fallon sumir sem nem dizer adeus.

 

CLOSE em Dianne, que vira o rosto, misteriosa.

 

CENA 26. RESTAURANTE. INTERIOR. NOITE.

 

Fallon está sentada na frente de Dianne em uma mesa no centro de um restaurante sofisticado. A senhora, 20 anos mais nova, retira um envelope da bolsa e entra a Fallon.

 

FALLON – O que é isso?

 

DIANNE – É um pequeno presente meu para você. Abra, você vai gostar.

 

Fallon hesita, mas pega o envelope e vê o que tem lá dentro. Ela olha perplexa para Dianne, que sorri.

 

DIANNE – E então, aceita ou não?

 

FALLON – (LARGA O ENVELOPE) Eu não posso fazer isso com o Cotton.

 

DIANNE – Ah você pode, você pode e você vai. Por que se você não fizer, essas fotos vão estar estampadas em todas as capas dos jornais da cidade. Se você não for por bem, irá por mal.

 

FALLON – Isso é errado senhora Addams. Eu amo seu filho. Você não pode nos separar dessa forma.

 

DIANNE – Eu posso sim, e eu vou. Cotton está destinado a ser Padre e seguir os ensinamentos de Deus. Não vou deixar uma qualquer estragar meus planos para meu filho.

 

FALLON – A senhora não ama o Cotton. Se amasse saberia que o melhor para ele é ficar comigo.

 

DIANNE – Somente eu sei o que é bom para ele. Agora faça o que eu mando e desapareça dessa cidade. Vá dançar balé no raio que a parta, mas suma das minhas vistas. É uma ordem. Ou prefere envergonhar sua família perante a cidade inteira?

 

Fallon baixa a cabeça e começa a chorar. Dianne revira os olhos, irritada, e recolhe o envelope.

 

DIANNE – Eu acho que já entendi a sua decisão. É uma garota bastante esperta.

 

CENA 27. APARTAMENTO DE DANIELLE. QUARTO. INTERIOR. DIA.

 

Uma mala grande aberta em cima da cama. Danielle tira algumas roupas do armário e vai jogando na mala, aflita. Martinez a surpreende entrando no quarto e Danielle dá um grito.

 

MARTINEZ – Calma, mulher! Sou só eu! Calma!

 

DANIELLE – (ASSUSTADA) Como conseguiu entrar na minha casa?

 

MARTINEZ – A porta estava aberta. (VÊ A MALA) Por que está fazendo as malas?

 

DANIELLE – Não te interessa.

 

Danielle fecha a mala e prende com o zíper. Martinez se aproxima, curioso.

 

MARTINEZ – Por acaso vai viajar? O doutor Lawrence sabe disso? Ele precisa de você na clínica.

 

DANIELLE – Não, ele não sabe. E você vai prometer que não vai contar nada pra ele que eu estou indo embora. Por favor, Martinez.

 

MARTINEZ – Então você está fugindo?

 

Danielle se atrapalha para responder. Martinez vê uma pasta em cima do criado mudo. Ele se aproxima, mas Danielle agarra a pasta.

 

DANIELLE – Não mexe nisso.

 

MARTINEZ – Eu estou entendendo o que está havendo…

 

DANIELLE – (NERVOSA) Martinez…

 

MARTINEZ – Você está fugindo por que vai entrega-lo a polícia, é isso? Essa pasta trata-se de um dossiê contra o doutor!

 

DANIELLE – (SE EMOCIONA) Eu cansei disso tudo Martinez. Cansei de ser humilhada, cansei de fazer outras pessoas sofrerem, cansei! Eu vou fugir sim, e quando eu estiver bem longe, vou entregar isso para a polícia. E vou responsabiliza-lo por todos os crimes. Essa máfia vai acabar.

 

MARTINEZ – Você não pode fazer isso, fez um pacto, esqueceu? Pode pagar caro. Com a vida do seu filho.

 

DANIELLE – Meu filho não está vivo, ele está morto a muito tempo. E eu descobri isso apenas agora. Vocês me enganaram todos esses anos. Acabou Martinez. Se eu fosse você, fugia o mais rápido possível.

 

MARTINEZ – Danielle/…

 

E Danielle sai, carregando a mala e a pasta com as provas. CLOSE em Martinez, sem saber o que fazer.

 

CENA 28. FLORESTA. CABANA. QUARTO. INTERIOR. DIA.

 

Ryan sentado na cama, segurando os joelhos contra a barriga. Ele se levanta e vai até a porta, tentando abrir, mas percebe que está trancada.

 

RYAN – (GRITA) Abre essa merda! (DÁ UM SOCO NA PORTA) Abre! Me tira daqui!

 

Ryan começa a chorar e vai dando vários chutes na porta. Ela se bate contra a porta e cai no chão em cima de um tapete. Ryan ouve um barulho oco no momento em que cai e paralisa por alguns segundos.

 

RYAN – Mas o que é isso...

 

Ele se levanta e dá alguns pulos em cima de um tapete. O barulho oco continua. Ryan se afasta e puxa o tapete para o lado, descobrindo uma pequena porta escondida.

 

RYAN – (CURIOSO) O que é isso...

 

Ryan percebe que há um pino de metal junto a portinhola e puxa, revelando um buraco escuro. Ele chega mais perto e olha lá embaixo. CLOSE em Ryan.

 

CENA 29. APARTAMENTO DE VIOLET. SALA. INTERIOR. DIA.

 

A campainha toca. Violet sai de seu quarto vestindo um avental sujo de tintas e abre a porta. Letitia está ali, ressabiada, segurando sua bolsa. Violet abre um sorriso.

 

VIOLET – Meu amor, você veio.

 

Violet vai beijar Letitia, mas ela se afasta, séria. Violet estranha.

 

VIOLET – O que houve?

 

LETITIA – Nós precisamos ter uma conversa séria Violet.

 

E Letitia entra no apartamento. Violet fecha a porta e olha para ela, surpresa.

 

VIOLET – O que houve com você? Está diferente. Recusou meu beijo. Te fiz alguma coisa?

 

LETITIA – É exatamente sobre a nossa relação que eu vim falar. Preciso esclarecer alguns por menores.

 

VIOLET – Bom, eu até estranho você aqui. Achei que o Lawrence te manteria trancada no quarto depois que ele descobriu sobre nós.

 

LETITIA – Eu estou livre agora. E ele não está em casa, por isso eu decidi vir.

 

VIOLET – Quer sentar?

 

LETITIA – Não será necessário. O que eu tenho para falar não demorará sequer um minuto.

 

VIOLET – Nossa Letitia, você está me deixando assustada.

 

LETITIA – Eu vou ser direta Violet... (PAUSA) Eu vim para encerrar tudo que exista entra nós.

 

VIOLET – (CHOCADA) O que está dizendo?

 

LETITIA – (RESPIRA FUNDO) Eu não posso mais seguir com isso. Eu realmente gostei de você, me senti envolvida, mas... Eu vou ser mãe Violet.

 

VIOLET – Já entendi... Lawrence... (SE SENTA NO SOFÁ) Ele te obrigou a fazer isso.

 

LETITIA – (ALTO) Não tem nada a ver com Lawrence. Ele nem imagina que eu esteja aqui. É sobre eu e você. Eu não sou lésbica Violet. Eu gostei muito de te conhecer, mas eu não posso abandonar a minha vida agora. Muito menos grávida do Jacob.

 

VIOLET – Jacob é o nome dele?

 

LETITIA – (ALISA A BARRIGA) É.

 

VIOLET – Eu sinceramente não sei o que dizer.

 

LETITIA – Por isso eu vim aqui esclarecer as coisas. Nunca mais me procure, por favor. Se você gosta de mim, me deixe em paz. Viva sua vida, siga seu caminho. Eu já perdi tanta coisa, não quero perder o que me restou.

 

VIOLET – (EMOCIONADA) Apesar de não concordar, eu entendo a sua posição. Essa criança veio para estragar tudo e você sabe disso. Se acha melhor se separar, eu acato.

 

LETITIA – Obrigada por me entender.

 

VIOLET – Eu só lamento você não ter coragem de se impor contra esse cara. O que vocês tem um com o outro? O que tanto te bota medo, meu amor?

 

LETITIA – (VIRA O ROSTO) Não me chame dessa forma.

 

VIOLET – (CONCORDA) Ok...

 

Violet se levanta e vai até a porta. Ela abre a e aponta a saída para Letitia.

 

VIOLET – Já ouvi tudo, agora me sinto no direito de ficar sozinha.

 

LETITIA – Bom... Fica com Deus.

 

Letitia caminha até a porta e se vira para Violet. Ela sorri e beija a artista plástica na bochecha.

 

VIOLET – É uma pena você não ter se apaixonado por mim da maneira que eu me apaixonei por você.

 

Letitia concorda, mas não responde. Apenas vai embora. Violet fecha a porta e começa a chorar, em total desespero. Ela se escora contra a porta e vai escorregando até cair sentada no chão. CLOSE em Violet.

 

CENA 30. CLÍNICA DE LAWRENCE. EXTERIOR. FRENTE. DIA.

 

O carro de Lawrence estaciona na frente da clínica. Ele desce da porta do motorista segurando sua pasta e sobe a escadaria até a entrada da clínica.

 

CENA 31. CLÍNICA DE LAWRENCE. SALA DE LAWRENCE. INTERIOR. DIA.

 

Lawrence entra seguido de Martinez. O médico vai contra a janela da sala e fecha as cortinas. Martinez está segurando uma arma.

 

LAWRENCE – (SE VIRA) Sim?

 

MARTINEZ – Algo de terrível aconteceu doutor. E eu acho que deve saber.

 

Lawrence olha para Martinez, sem entender. Martinez o encara, sombrio.

CENA 32. FLORESTA. CABANA. PASSAGEM SECRETA. INTERIOR. DIA.

 

Ryan desce pela entrada que descobriu no quarto e cai sentado no chão de um curto corredor. Ela tosse por causa da poeira e fica de quatro. Lá no fundo, dá uma pequena fresta de luz. Ryan vai se arrastando até lá. No final da passagem, ele encontra uma pequena porta com o vidro sujo de terra. Ryan passa a manga da camisa no vidro para limpar e consegue enxergar a floresta. Ele percebe que está num local bastante alto. Ryan empurra a janela e coloca o rosto para fora. Ele vê que a altura é relativamente grande e retorna, assustado.

 

RYAN – (DECIDIDO) Você consegue Ryan... É a sua chance...

 

Ryan se acomoda pela passagem e consegue se sentar, colocando os dois pés para fora. Ele fecha os olhos, respira fundo e dá mais uma olhada para baixo.

 

RYAN – (COM MEDO) Droga! Droga! Seja o que Deus quiser!

 

E Ryan se impulsiona para fora. Em CÂMERA LENTA o menino desaba da altura da porta e cai em cima de um monte de arbustos. CLOSE no rosto de Ryan afogado no meio das folhas. O menino vai tentado se levantar, machucado, e apoia as mãos contra a parede da casa.

 

RYAN – (SORRI) Eu consegui... Eu estou livre...

 

Ryan olha para os lados e dá alguns passos para sempre. Ele põe a mão contra o braço direito e sente uma dor. Quando Ryan vai correr até a floresta, algo surge nas suas costas e acerta com um objeto. Ryan cai de bruços no chão. CLOSE no sangue escorrendo da cabeça do menino.

 

CENA 33. IGREJA. ALTAR. INTERIOR. DIA.

 

Um coroinha arruma um arranjo de flores em cima do altar. Cotton sai da sacristia e avalia o trabalho do rapaz.

 

COTTON – Muito bom, mas agora você pode ir para casa. Nos falamos amanhã.

 

COROINHA – Obrigado, padre.

 

COTTON – Deus te abençoa.

 

E o coroinha sai pela porta esquerda da Igreja. Cotton cruza os braços e olha em volta do local, maravilhado com a beleza nas pinturas e esculturas de santos.

 

MABEL – (EM OFF) Belas pinturas padre.

 

Cotton se vira surpreso e vê Mabel na porta da Igreja, toda de preto, segurando uma rosa vermelha.

 

MABEL – Poderiam estar sendo exibidas no Museu do Louvre.

 

COTTON – (IRRITADO) Mas que afronta! Saia já da minha Igreja, sua pecadora!

 

MABEL – Eu vim por que tenho que falar com você.

 

COTTON – (DÁ DE COSTAS) Não tenho nada para ouvir.

 

Mabel caminha sob o tapete vermelho entre os bancos e chega até Cotton. Ela esfrega uma das mãos nas costas dele. Cotton fecha os olhos, se controlando.

 

MABEL – Por favor, não seja rude comigo. Deus disse ajude a todos que eu te ajudarei.

 

COTTON – (SE VIRA) O que quer? Hum? Brincar comigo novamente? Você deixou bem claro que queria distância de mim. Que me odiava.

 

MABEL – Eu estava errada Cotton. Todos esses dias eu andei pensando e… E quando eu descobri o que estou prestes a revelar, eu percebi que não posso mais me afastar desse sentimento.

 

COTTON – Sentimento?

 

MABEL – Amor, Cotton.

 

Mabel segura o rosto dele com a mão. Cotton dá dois passos para trás.

 

COTTON – (TRÊMULO) Isso é uma brincadeira, é um jogo. Você… não pode vir até mim agora como se nada tivesse acontecido.

 

MABEL – Eu te amo Cotton. E sei que ainda me ama.

 

COTTON – Talvez você esteja certa. Eu realmente te amei. Mas você tem noção o que causou na minha vida? Meu rosto foi estampado em todos os jornais. As pessoas não pisam mais nessa Igreja. Eu perdi a credibilidade. E quase perdi meu direito de pregar a palavra do Senhor.

 

MABEL – E eu me arrependo amargamente pelo que fiz. Quando eu vi que você concordou com o que seu irmão fez comigo e com nosso bebê eu me tomei de um ódio avassalador. A única coisa que eu queria era vingança.

 

COTTON – Sua vingança quase destruiu minha vida.

 

MABEL – Eu sei. Me perdoa. Diz que me perdoa, por favor. Diz que me ama e que está disposto a largar tudo e fugir comigo.

 

COTTON – (ENCARA) Não posso!

 

MABEL – (DIRETA) Estou grávida novamente.

 

CLOSE em Cotton, perplexo. Ele a encara sem ter o que dizer. Mabel põe a mão na barriga.

 

MABEL – Aquela noite… Depois que você me tirou da clínica…

 

COTTON – (ATORDOADO) Isso é mentira! Só pode ser mentira! (APONTA) Esse filho não é meu. Ele pode ser de qualquer um.

 

MABEL – Eu nunca mais fiz sexo com nenhum homem desde aquele momento. Eu larguei aquela vida de prostituição luxúria. E estou esperado nosso bebê.

 

COTTON – (ALTO) Eu não acredito.

 

MABEL – Estou falando a verdade.

 

COTTON – (APONTA) Você não tem o direito de vir até mim se fazendo de coitada e dizendo que está grávida. Muito menos que esse filho é meu. (PAUSA) Entenda uma coisa Mabel, eu te abomino. Abomino cada segundo de sua existência. Você tentou destruir minha vida e minha carreira. Eu jamais, repito, jamais largaria a batina para fugir do seu lado. (ACHA GRAÇA) Acorda, sua filha da puta!

 

Cotton põe a mão na boca e faz o sinal da cruz, em respeito. Mabel começa a chorar, desolada.

 

MABEL – Então é assim? Esse é o final? Você vai me abandonar junto do seu filho?

 

COTTON – Desapegar não é fácil, Mabel. É muito doloroso, ainda mais com as pessoas derrubando seu mundo em cima de você. Apenas se lembre disso e siga seu caminho. Que Deus te abençoe.

 

Cotton pega a rosa das mãos dela e sai, em direção a sacristia. CLOSE no rosto triste de Mabel.

 

CENA 34. NOVA IORQUE. CENAS PANORÂMICAS. EXTERIOR. NOITE.

 

O sol vai se pondo em Nova Iorque. Os pequenos feixes de luz vão sumindo em meio aos arranha-céus dos prédios. PLANO GERAL das principais avenidas da cidade lotadas de carros.

 

CENA 35. APARTAMENTO DE VIOLET. QUARTO DE VIOLET. INTERIOR. NOITE.

 

Violet sentada na frente de uma tela de pintura. Ela segura o pincel com graciosidade e desenha algumas coisas na tela. Ela mergulha o pincel em outras cores de tinta e continua pintando. Algum tempo depois, Violet larga o pincel e se levanta, sorrindo para o quadro.

 

VIOLET – (ANIMADA) Está definitivamente pronto!

 

E a CÂMERA mostra o que está desenhado na tela: o rosto de Letitia em forma de caricatura. Violet observa os fortes traços no rosto da amada e seus olhos brilham. CLOSE em Violet.

 

CENA 36. BOATE. PALCO. INTERIOR. NOITE.

 

Existem cerca de 10 mesas espalhadas pela boate. Uma empregada passa esfregão no meio da pista. Um dos garçons organiza os copos em cima do balcão. Mabel está sentada no palco do local, chorando muito, agarrada a uma garrafa de vodca. Ela dá alguns goles na bebida e tosse, afogada no álcool. Mabel esfrega a boca e continua chorando. CLOSE em Mabel.

 

CENA 37. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE COTTON. INTERIOR. NOITE.

 

FADE IN numa vela acesa em cima do criado mudo. Cotton sai do banheiro enrolado numa toalha e apaga a vela. Ele abre o guarda roupas e procura alguma coisa para vestir. É quando ele pega um casaco de couro marrom e sorri. Cotton coloca a mão num dos bolsos do casaco e pega uma foto. CLOSE na foco: trata-se de Fallon. Cotton segura a foto com as duas mãos e a rasga no meio. Ele joga os pedaços o chão e a CÂMERA foca na foto rasgada.

 

CENA 38. MARINA. EXTERIOR. NOITE.

 

Um navio está estacionado próximo a marina da cidade e alguns passageiros fazem fila para subir a bordo. Danielle desce de um táxi e vai caminhando até a embarcação. Ela para por um instante, dá uma olhada na pasta e suspira fundo. CÂMERA mostra em segundo plano Lawrence saindo da escuridão e se aproximando pelas costas dela.

 

LAWRENCE – Indo a algum lugar?

 

Danielle se vira assustada e deixa a pasta cair. Antes que ela se abaixa para pegar, Lawrence pisa na pasta e agarra do chão.

 

LAWRENCE – Precisando disso?

 

DANIELLE – (NERVOSA) Doutor… Eu… Por favor… Me devolva esta pasta.

 

LAWRENCE – E por que eu faria isso? (FOLEIA) Você tem bastante coisa sobre mim aqui dentro… O que pretendia fazer com isso?

 

DANIELLE – Eu… (EMBARGA A VOZ) Eu só queria ir embora pra sempre.

 

LAWRENCE – (ALTO) Me responde, vadia. Por que um dossiê contra mim?

 

DANIELLE – (SE EMOCIONA) Pra ter uma garantia contra o senhor, é isso. Mas eu jamais planejava mostrar esses documentos pra alguém.

 

LAWRENCE – Você realmente me acha com cara de estúpido, não acha? Você acha que Martinez não me contou da sua decisão de me entregar?

 

DANIELLE – (COMEÇA A CHORAR) Doutor, eu juro…

 

LAWRENCE – (GRITA) Calada! Eu não sei quem colocou isso na sua cabeça, mas eu não vou permitir que uma qualquer feito você tire de mim tudo que eu construí. Nós fizemos um pacto Danielle. E você sabe o que acontece com pessoas que o descumprem.

 

Lawrence pega as folhas do dossiê e as joga contra o mar. Danielle se atira no chão, tentando agarrar as folhas, e desaba em lágrimas.

 

DANIELLE – Foi Violet Langdon! (SOLUÇA) Foi ela!

 

LAWRENCE – (PENSA) Vadia…

 

Danielle se aproxima dele e agarra em seus joelhos.

 

DANIELLE – Poupe a minha vida, doutor, eu sempre fui fiel ao senhor, sempre fiz o que queria, por favor, me deixe voltar, me perdoe.

 

LAWRENCE – (SEGURA O ROSTO DELA) Faz o que ajoelhada na minha frente? Quer que eu abra a braguilha pra você chupar, vagabunda? (ALTO) Levanta!

 

Ele puxa Danielle e agarra pelo braço.

 

LAWRENCE – Sabe o que eu faço com pessoas que não cumprem o combinado? Eu faço pior do que matar.

 

DANIELLE – (DESEPSERADA) Por favor…

 

LAWRENCE – (SUSSURRA) Tarde demais para chorar, o erro já foi feito.

 

E Lawrence empurra Danielle contra uma pilha de caixas, sem que ninguém possa vê-los. Danielle se desespera. Lawrence avança sobre ela e agarra em seu pescoço. Danielle começa a grunhir e tenta arranhar o rosto dele com as unhas. Lawrence pressiona o pescoço da enfermeira com mais força. Danielle vai perdendo os sentidos e uma substância gosmenta escorre pelo canto de sua boca. Lawrence respira fundo e solta Danielle. Ela põe a mão no pescoço e começa a tossir, bastante nervosa. Lawrence põe as duas mãos no rosto, arrependido. Danielle se levanta, olha para ele e sai correndo.

 

CORTA PARA Danielle saindo da marina e correndo pela calçada da rua principal. Vários carros passam e ela faz sinal para que algum pare.

 

DANIELLE – (BERRA) Socorro! Me ajudem!

 

Danielle olha para os dois lados da estrada e decide atravessar. No meio da avenida, ela vê uma luz se aproximar e se vira. CLOSE no rosto da enfermeira totalmente iluminado. Um carro avança e atropela Danielle, fazendo-a voar alguns metros e cair de bruços no chão. O carro para na estrada. FOCO em Martinez na direção do veículo, suando frio. Ele engata a marcha ré e CÂMERA mostra as rodas traseiras do veículo passando por cima da cabeça de Danielle, esmigalhando-a em mil pedaços. Martinez engata a primeira marcha, acelera e sai cantando pneus.

 

CENA 39. MANSÃO DOS ADDAMS. ESCRITÓRIO. INTERIOR. NOITE.

 

Lawrence sentado em frente a sua mesa, pensativo, batendo sua caneta na madeira. Martinez entra no escritório e fecha a porta. Ele vai até o chefe e cruza os braços.

 

MARTINEZ – Mandou me chamar, chefia?

 

LAWRENCE – Mandei sim Martinez, obrigado. A gente precisa conversar.

 

MARTINEZ – Algum assunto urgente?

 

LAWRENCE – Eu queria te agradecer pelo que fez por mim hoje... dando um jeito na Danielle. Você salvou a minha vida.

 

MARTINEZ – Eu apenas fiz meu trabalho.

 

LAWRENCE – Não seja modesto, você finalmente me mostrou que posso ter confiança total em você. Eu fui fraco. Eu devia tê-la matado, mas não consegui. Pela primeira vez na minha vida. Mas você se mostrou útil. Não esquecerei isso. Temos uma dívida.

 

MARTINEZ – É um prazer, doutor.

 

LAWRENCE – E o corpo?

 

MARTINEZ – Conseguimos retirá-lo antes que a polícia chegasse. Já tomamos as medidas para que ninguém encontre, assim como o restante das provas que haviam no apartamento.

 

LAWRENCE – Graças a Deus menos um problema. Foi a Violet. Ela é a culpada pelo que está acontecendo. Ela está obstinada a acabar comigo e achava que poderia fazer através de Danielle.

 

MARTINEZ – Acha que devemos dar um susto nela?

 

LAWRENCE – Não, não agora, é perigoso, eu não sei o que ela tem contra mim realmente. Mas fique a espreita. Nunca sabemos qual será o próximo passo da Senhorita Langdon.

 

Martinez confirma com a cabeça e se retira da sala. CÂMERA focaliza no rosto de Lawrence.

 

1944

CENA 2. CASARÃO ANTIGO. SALA. INTERIOR. DIA.

 

 

 

Uma porta se abre e CÂMERA entra num salão enorme. Letitia vem sendo trazida pelas mãos por dois homens altos, encapuzados, somente com os olhos de fora. Ela está com os cabelos soltos e vestindo uma camisola vermelha. No centro da sala, uma fogueira feita com estacas rodeada por vários outros homens encapuzados de preto. Letitia é colocada no meio desses homens e vê, do outro lado da fogueira, Lawrence, nu, apenas com um lençol branco cobrindo suas partes íntimas. Os dois vão contornando a fogueira e se encontram. Ficam olhando um pro outro por alguns segundos. Uma porta de madeira se abre atrás deles e um homem mais velho, todo vestido de branco, também com capuz na cabeça, adentra na sala. Ele fica frente a frente com Lawrence e Letitia. O homem estala os dedos e dois dos homens em volta da fogueira aparecem trazendo uma faca de cozinha e dois copos vazios.

 

HOMEM BRANCO – (PARA LAWRENCE E LETITIA) Vocês estão prontos para isso?

 

Lawrence concorda com a cabeça. Letitia permanece paralisada, morrendo de medo.

 

HOMEM BRANCO – (PARA LAWRENCE) Me dê seu braço.

 

Lawrence obedece e estica o braço na direção do homem branco. Um dos dois homens de preto colocam um dos copos vazios abaixo do braço de Lawrence. O homem branco fecha os olhos e aproxima a faca do pulso de Lawrence.

 

HOMEM BRANCO – (ALTO) Incipit rituali.

 

E ele passa a faca pelo pulso de Lawrence, fazendo um enorme corte. Lawrence urra de dor e seu sangue começa a escorrer para dentro do copo. O segundo homem de preto enrola um pano vermelho no braço de Lawrence, que lacrimeja de dor. O homem branco pega o copo onde está o sangue de Lawrence e o entrega para a Letitia.

 

HOMEM BRANCO – Beba.

 

Letitia segura o copo, com nojo, e cheira o sangue. Ela olha para Lawrence, que está pálido, com o braço sangrando. Lentamente, ela aproxima o copo da boca e dá um gole no sangue do marido. Ela põe a mão na boca para evitar vomitar e tosse, deixando espirrar algumas gotas do sangue. Um dos homens de preto recolhe o copo de Letitia.

 

HOMEM BRANCO – (PARA ELA) É a hora de você me dar seu braço.

 

Letitia respira fundo e começa a chorar. O homem branco agarra o braço dela e puxa, assustando-a. Um dos homens de preto coloca o outro copo vazio abaixo do braço de Letitia.

 

HOMEM BRANCO – (ALTO) Simul aeternum.

 

E vai aproximando a faca do pulso de Letitia. Ele vai fazendo um grande corte no braço da mulher e ela começa a berrar de dor, desesperada, e seu sangue vai pingando dentro do copo. Um dos homens de preto enrola seu pulso num pano vermelho. O homem branco entrega o copo com o sangue de Letitia para Lawrence.

 

HOMEM BRANCO – Beba.

 

Lawrence agarra o copo, olha o sangue da mulher e dá um bom gole, também fazendo menção de regurgitar. Letitia continua chorando, com o braço sangrando muito. O homem branco mistura os dois sangues num copo só, molha o dedo polegar e desenha uma cruz na testa de Lawrence. Ele faz a mesma coisa na testa de Letitia.

 

HOMEM – (RESPIRA FUNDO) Finito. (OS ENCARA) A partir do dia de hoje, vocês dois estão destinados a pertencerem um ao outro para sempre.

 

E todos os homens em volta da fogueira começam a gritar. Lawrence e Letitia se olham e a CÂMERA dá um close no rosto de cada um, numa espécie de transe, com a pupila dos olhos dilatada. FOCO na fogueira no centro da sala. FADE OUT.

CENA 40. FLORESTA. CABANA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.

 

CÂMERA no rosto adormecido de Ryan. Ele arregala os olhos do nada e respira ofegante. Ben está sentado em uma cadeira no pé da cama. Ryan percebe que está com os braços, pernas e tronco amarrados com uma grossa corda na cama. Ele ergue o rosto e vê Ben.

 

RYAN – (ASSUSTADO) Você... Não... Eu...

 

BEN – (SÉRIO) Tentou fugir de mim como da outra vez. Que coisa feia Ryan. Depois de tudo que nós vivemos, você quer me abandonar dessa maneira vil? Sem nem um beijo de despedida?

 

RYAN – Você é um porco nojento!

 

BEN – E você é uma putinha, é isso que você é. Sabe Ryan, eu cansei de você. Chega. Não quero mais brincar de casinha.

 

RYAN – (COM MEDO) O que quer dizer?

 

BEN – (ALTO) Quero dizer que eu estou começando a realmente te odiar, moleque atrevido. Não vou mais poupar as suas gracinhas. Você é como um pássaro. No momento em que você tenta voar, eu sou obrigado a cortar suas asas.

 

RYAN – O que vai fazer?

 

BEN – Vou te fazer pagar as consequências dos teus atos infantis.

 

Ben se levanta e pega um grande martelo que estava escorado no pé da cadeira. Ele vai jogando o martelo de mão em mão, ameaçando Ryan.

 

BEN – Você já ouviu falar do filme Misery, Ryan? O clássico de suspense dos anos 90? (PAUSA) É óbvio que não. Você nem era nascido. Era apenas um espermatozoide. Bom, nesse filme um escritor de romances sofre um acidente numa região tipo essa onde estamos. Ele é sequestrado por uma fã que vive numa cabana e é torturado por ela das maneiras mais frias e cruéis que possa imaginar.

 

RYAN – Ben... (SE DESESPERA) O que vai fazer com esse martelo?

 

BEN – Eu estou a fim de reviver uma das cenas mais polêmicas do filme. A cena que deu o Oscar para a atriz Kathy Bates.

 

Ben se abaixa e pega um grosso e longo pedaço de madeira do chão. Ele abre a pernas de Ryan e coloca o pedaço de madeira entre os tornozelos do menino.

 

BEN – Eu vou fazer isso por que eu te amo e por que eu sei o que é melhor pra você.

 

RYAN – (COMEÇA A CHORAR) Não faz isso Ben... Eu te suplico.

 

Ben segura o martelo com força e o coloca contra o pé esquerdo de Ryan. Ryan fecha os olhos e chora muito. Ben olha para ele.

 

BEN – Deus, como eu te amo.

 

Ben levanta o martelo e, com toda a força, dá uma martelada contra o pé de Ryan. Ryan começa a se bater na cama e gritar de muita dor. CLOSE no pé do menino quebrado, caído contra o pedaço de madeira. Ben contorna a cama e posiciona o martelo contra o pé direito de Ryan. Ryan continua gritando muito alto, morrendo de dor. Ben olha fixamente para o rosto de Ryan e sorri. Ele agarra firme o martelo e quando vai quebrar o pé do menino, houve-se um estalo de osso quebrando e FADE OUT.

 

CENA 41. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE LETITIA. INTERIOR. NOITE.

 

FADE IN na janela do quarto. O vidro está aberto e o vento balança as cortinas brancas. Letitia sai do banheiro usando uma camisola vermelha. Ela caminha até a janela e fecha o vidro. Letitia põe as duas mãos na barriga e começa a chorar, sem saber o que fazer. Ela pensa e olha para o guarda-roupa. Rapidamente, Letitia vai até o móvel e pega um cabide vazio. Letitia segura o cabide e se senta no chão do quarto. Ela coloca o cabide no lado e vai tirando a calcinha debaixo da camisola. Letitia pega o cabide e desentorta até conseguir a forma de uma flecha pontiaguda. Letitia fecha os olhos e deixa escorrer uma lágrima. Ela agarra o cabide entornado com as mãos e vai aproximando de sua região genital. Ela respira fundo e começa a enfiar o objeto dentro da vagina. Letitia ergue a cabeça e vai gemendo. Lentamente, o cabide vai entrando na genital dela e sangue começa a pingar no chão. Letitia começa a sentir muita dor e a gritar. O cabide vai entrando dentro da vagina e o sangue vai escorrendo até formar uma grande poça na frente dela. Letitia grita desesperadamente de dor e um raio surge no céu e ilumina o quarto. CLOSE na enorme poça de sangue no chão. FADE OUT no grito de horror de Letitia.

 

 

- FIM DO EPISÓDIO -

 

 

ESTRELANDO

 

PETER KRAUSE como Lawrence Addams

CONNIE BRITTON como Letitia Addams

EVAN PETERS como Ben Addams

ALEXANDRA BRECKENRIDGE como Jessica Addams

GLENN FITZGERALD como Cotton Addams

PIPER PERABO como Mabel Hargensen

RYAN MERRIMAN como Blake Morgan

COURTENEY COX como Violet Langdon

JESSICA LANGE como Dianne Addams

 

ATORES ESPECIALMENTE CONVIDADOS

 

KATHY BATES como Karen McCullen

JAMES PUREFOY como Nick Donovan

NATALIE ZEA como Fallon Carrington

 

ATORES CONVIDADOS

 

CHAD LOWE como Wayne Florrick

MELISSA McBRIDE como Sarah Florrick

DAKOTA GOYO como Ryan Florrick

BREE WILLIAMSON como Kendra Parker

JAMIE ANNE ALLMAN como Danielle

ADAM RODRIGUEZ como Martinez

 

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

 

LAZ ALONSO como Larry

 

MÚSICA DO EPISÓDIO

 

IN EVERY DREAM HOME A HEARTACHE by Talk Normal

bottom of page