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CENA 1. DELEGACIA DE NOVA IORQUE. CORREDOR. INTERIOR. DIA.

 

Kendra e Larry caminham por um extenso corredor da delegacia enquanto conversam. Ela está com uma pasta lotada de papéis nas mãos.

 

KENDRA – Você acredita em karma, Larry?

 

LARRY – (ESTRANHA) Como assim?

 

KENDRA – Você sabe, karma. Quando as coisas que acontecem merecem acontecer com determinadas pessoas. Por exemplo, a família Addams. É incrível como sempre alguma tragédia acontece em torno deles. Ou morte, ou tiroteio, ou desgraça.

 

LARRY – É, digamos que talvez eles tenham cavado as próprias tragédias diante de seus pecados quase escancarados.

 

KENDRA – E se não bastasse isso tudo, Benjamin segue desaparecido e acompanhado do menino Ryan. Estou realmente preocupada.

 

LARRY – Sarah e Wayne ligam para o seu número quase todo o dia querendo saber do filho. Eu simplesmente não sei mais o que dizer.

 

KENDRA – O nosso trabalho nós já fizemos. Estamos monitorando as saídas da cidade com uma patrulha de viaturas. Agora, devemos esperar alguma ligação dele.

 

LARRY – E se ele não ligar?

 

KENDRA – Ele vai ligar, você sabe que vai. Ele vai usar Ryan como moeda de troca para a sua fuga.

 

LARRY – Mas por que está demorando tanto?

 

KENDRA – Infelizmente minha bola de cristal ficou em casa hoje.

 

E os dois entram na porta da sala de Kendra.

 

CENA 2. DELEGACIA DE NOVA IORQUE. SALA DE KENDRA. INTERIOR. DIA.

 

Kendra se senta em sua poltrona e Larry fecha a porta da sala. A delegada põe seu copo de café na mesa e vê um envelope em cima. Larry senta-se na frente da delegada.

 

KENDRA – Mas o que é isso...

 

Kendra agarra o envelope e lê alguma coisa escrita na parte de fora.

 

LARRY – Isso o que?

 

KENDRA – (SURPRESA) Oh céus…

 

Kendra abre o envelope e tira um papel em branco apenas com alguns números que indicam latitude e longitude.

 

LARRY – (SE PREOCUPA) O que está escrito ai, delegada?

 

KENDRA – (OLHA PARA ELE) Eu acho que Ben Addams acaba de nos enviar a localização de seu esconderijo.

 

Kendra e Larry se olham, perplexos. CLOSE nos números da folha de papel. FADE OUT.

CENA 12. CASEBRE DE SEAN. INTERIOR. DIA.

 

Sean joga uma mochila sob a mesa da cozinha e abre uma gaveta no armário debaixo da pia. Ele pega algumas sacolas e coloca dentro da mochila. Jessica está atrás dele, de braços cruzados.

 

JESSICA – Sean, eu estou falando com você. Quem eram esses homens que acabaram de metralhar a sua casa? Quem são esses caras?

 

SEAN – (NERVOSO) Não interessa quem eles sejam Jessica! Temos que ir embora daqui agora! Já!

 

JESSICA – Eu não vou a lugar nenhum antes que você me dê explicações.

 

SEAN – (SE VIRA PARA ELA) Eu não posso te dar explicação nenhuma agora meu amor, confia em mim. Vamos sair daqui.

 

JESSICA – (ALTO) Eu não vou Sean! Quem eram aqueles bandidos? É o que eu estou pensando?

 

SEAN – O que está pensando?

 

JESSICA – Que você deve alguma coisa para eles e não pagou, é óbvio. E eles vieram cobrar a dívida. Estou certa?

 

SEAN – (BAIXA A CABEÇA) Não quero falar sobre isso.

 

JESSICA – (AGARRA O ROSTO DELE) Por que é tão difícil para você falar de sua vida? Hum? Por que você não confia em mim?

 

Sean se vira e fecha a mochila sob a mesa. Jessica tira a mochila das mãos dele e abre o fecho.

 

SEAN – (GRITA) Não abre isso!

 

JESSICA – Deixa eu ver o que está escondendo aqui.

 

Jessica abre a mochila e puxa uma sacola de dentro. Ela larga a mochila no chão e Sean pega, nervoso. Jessica abre a sacola e vê vários saquinhos de cocaína fechados. Sean enche os olhos de lágrimas. Jessica o encara.

 

JESSICA – Então é isso Sean? (ERGUE O SACO) São drogas? É por isso que esses homens tentaram nos matar? Por que você está devendo drogas a eles?

 

SEAN – (CHORA) Me perdoa meu amor, eu devia ter te contado antes, mas...

 

JESSICA – Mas nada! Você mentiu pra mim e colocou minha vida em risco. Como posso querer ficar do seu lado se você mente descaradamente?

 

SEAN – (SE APROXIMA DELA) Nós precisamos sair daqui Jessica. Esses homens são perigosos. Eles vão voltar e vão nos matar.

 

JESSICA – Eu não irei a lugar nenhum.

 

SEAN – (COM MAIS CALMA) Jessica... por mim... por você... pela sua família... Nós temos que sumir o mais depressa possível. É sério.

 

CLOSE em Jessica.

 

CENA 13. FLORESTA EM NOVA IORQUE. INTERIOR. NOITE.

 

Larry atrás de alguns arbustos com um binóculo no rosto. Ele vê o casebre onde Ben e Ryan estão escondidos atrás das árvores. O policial baixa o binóculo e retorna mais atrás, onde estão dois carros da polícia. Kendra e Lawrence descem de um deles.

 

KENDRA – (ANSIOSA) E então?

 

LARRY – Tem uma casa mais ali na frente, com certeza o local que estamos procurando.

 

KENDRA – Muito bem, Larry organize a equipe. Nós vamos tentar comunicação com o Ben e invadir a casa.

 

Larry concorda e sai. Lawrence se vira para Kendra.

 

LAWRENCE – Como assim invadir?

 

KENDRA – (ENCARA) Invadindo. E você, fique dentro do carro. Nem era para estar aqui.

 

E Kendra também sai. CLOSE em Lawrence. CORTA PARA a equipe de 10 policiais, incluindo Kendra e Larry, andando armados em direção ao casebre no meio da mata. Kendra anda mais a frente e se esconde atrás de um arbusto. Ela faz sinal positivo com a mão e a equipe avança. Kendra segura a arma firme e corre mais a frente, ficando atrás de um tronco de uma árvore, logo em frente ao casebre. Os outros policiais vão pelos lados para cercar o local. CLOSE nos olhos da delegada. Ela vê que uma das janelas do casebre está com a cortina aberta e percebe alguma coisa suspensa no ar. Ela retira um binóculo da cintura e aproxima do rosto. CORTA PARA a janela do casebre. Dois pés masculinos estão suspensos no ar. Kendra deixa o binóculo cair e dá dois passos para trás, assustada.

 

KENDRA – Merda!

 

A delegada assovia e Larry, que estava do lado esquerdo dela, um pouco mais distante, olha.

 

KENDRA – (GRITA) Invadam a casa!

 

CENA 14. RUA DE NOVA IORQUE. EXTERIOR. DIA.

 

PLANO GERAL de uma avenida congestionada por milhares de carros numa fila gigantesca. Os motoristas buzinam, colocam a cabeça para fora e gritam alguma coisa para os carros que estão na frente. Sean e Jessica caminham entre os carros, cada um carregando uma mochila, bastante apressados.

 

JESSICA – (AFOITA) Para onde estamos indo?

 

SEAN – (OFEGANTE) Para um lugar seguro. Um lugar em que possamos ficar até eu resolver as coisas.

 

JESSICA – Sean! (SEGURA NO BRAÇO DELE)

 

Sean para e se vira para Jessica. Jessica respira fundo e abraça ele. Sean deixa as lágrimas virem em seus olhos e alisa os cabelos dela.

 

SEAN – Me desculpa. Me desculpa por te meter nisso. Por fazer você passar por essa situação. Você poderia estar morta hoje.

 

JESSICA – (SORRI) Eu sei, mas eu morreria por você e com você. Por que você simplesmente é o que faz meu coração bater.

 

SEAN – Então... Você seguirá comigo?

 

Jessica se afasta e olha bem nos olhos dele.

 

JESSICA – É lógico, seu bobo.

 

CORTA PARA mais a frente de onde Jessica e Sean estão. Um homem de casaco de couro preto e boné na cabeça se aproxima da janela de um dos carros, onde está um senhor de idade com sua esposa.

 

HOMEM – Bom dia.

 

SENHOR – (ESTRANHA) Bom dia... (OLHA PARA FRENTE) Será que o senhor pode me explicar o que está acontecendo lá na frente?

 

HOMEM – Será que o senhor pode me passar a grana?

 

E o homem de casaco preto tira uma arma do bolso e a coloca na cabeça do senhor. A senhora ao lado começa a gritar, em desespero.

 

SENHOR – (NERVOSO) Eu passo sim! Calma! Não faça nada que possa se arrepender!

 

HOMEM – (AMEAÇADOR) Passa tudo velhinho, dinheiro, joias, o que tiver! Anda! Da sua esposa também!

 

O senhor de idade tira a carteira do bolso e retira algumas notas de dinheiro. A esposa dele tira os brincos da orelha e dá ao marido. O senhor entrega ao bandido.

 

SENHOR – (AMEDRONTADO) Tome, é tudo o que temos.

 

BANDIDO – (OLHA) Só essa micharia?

 

E sem pensar, ele engatilha a arma e atira na testa do senhor de idade, que cai morto no colo da mulher. A esposa dá um grito de horror e começa a chorar. CORTA PARA Jessica e Sean. Eles se viram na direção do tiro, perplexos.

 

SEAN – O que foi isso?

 

CORTA PARA dentro do carro do senhor e da senhora de idade. O bandido usando casaco preto aponta a arma para velhinha, que continua chorando, desesperada, com o marido em seu colo. Ele sorri e atira contra o peito dela. A senhora põe a mão no ferimento e encosta a cabeça contra o banco, quase desmaiada. O bandido tira a cabeça de dentro do carro, põe a arma para cima e atira duas vezes.

 

HOMEM – (GRITA) Arrastão!

 

CENA 15. CASEBRE NA FLORESTA. EXTERIOR. DIA.

 

A equipe de policia sai da mata e corre em direção ao casebre. Kendra e Larry vem em seguida, com cuidado, empunhando suas armas. Kendra sinaliza positivamente e um dos policiais arromba a porta com um chute. CORTA PARA DENTRO da casa. O policial entra, aponta a arma para todos os lados, e não vê ninguém. Ele caminha mais a frente pela sala, e os outros policiais entram. Kendra e Larry entram em seguida.

 

KENDRA – (BAIXA A ARMA) A janela fica do outro lado.

 

E Kendra sai acompanhada de Larry. Eles caminham, viram numa parede e chegam até a pequena cozinha do casebre. CLOSE em Kendra quando ela vê o que está na sua frente. Um manequim masculino vestido com algumas roupas pendurado no teto por uma corta.

 

KENDRA – (GRITA) Merda!

 

Um dos policiais vem até a delegada e Larry.

 

POLICIAL – A casa está vazia. Não há nada nem ninguém além de nós.

 

KENDRA – Como eu imaginava...

 

LAWRENCE – Delegada.

 

Kendra e Larry se viram no susto. Lawrence entra na cozinha e olha o manequim.

 

LAWRENCE – Pelo visto houve alguma brincadeira aqui.

 

KENDRA – (SEM PACIÊNCIA) Eu te disse para esperar no carro. O que faz aqui?

 

LAWRENCE – Eu precisava olhar na cara do meu filho, não podia espera-lo ser preso antes de dizer o que queria dizer. Mas vejo que foram enganados.

 

KENDRA – (TENSA) Era óbvio que isso ia acontecer. Um assassino procurado jamais entregaria sua localização para a polícia assim. Como fui burra!

 

LARRY – E o que faremos agora?

 

LAWRENCE – (POR CIMA) Ora que pergunta mais imbecil, não vão jogar algum pó sobre as coisas para recolher impressões digitais?

 

KENDRA – Não será preciso. Ben não está aqui com o garoto e ponto final. O que eu quero entender é... Por que nos trazer até esse local?

 

E os três se olham, sem saber o que dizer. Em TRAVELLING, a câmera vai passando da cozinha até a sala do casebre, entra em um quarto, onde há uma cama, roupas de camas no chão e cordas, e se aproxima de um tapete. Debaixo do tapete, dá uma porta que dá entrada a um túnel. A CÂMERA passa pelo túnel que chega até uma caixa de fios preta com algo em vermelho piscando. Trata-se de uma bomba. CLOSE na contagem regressiva mostrada no relógio. Quando a contagem chega até o número 0, a TELA ESCURECE e se ouve um barulho de explosão.

CENA 3. CASEBRE NA FLORESTA. QUARTO. INTERIOR. DIA.

 

Ryan abre os olhos. CÂMERA em seu rosto apavorado. Ele tenta se mover, mas percebe que está amarrado a cama. O menino ergue a cabeça e vê os dois pés enfaixados. Ben entra no quarto com um copo de água.

 

BEN – Oh, bom dia meu bonequinho. Achei que não acordaria mais. Estava ficando preocupado.

 

Ryan tenta erguer as pernas e dá múrmuros de dor por causa dos pés enfaixados.

 

RYAN – (DEBILITADO) Meus pés... Estão doendo muito...

 

BEN – (CONCORDA) É, eu sei. Você tentou voar ontem e eu tive de cortar as suas casas. Foi difícil, eu sei, pra mim e pra você, mas eu não podia deixar você ir. Justamente agora que estamos juntos.

 

RYAN – Eu estou com sede!

 

BEN – Ah está com sede?

 

Ben sorri e atira o copo de água contra Ryan. Ryan fecha os olhos e começa a tossir. Ben coloca o copo no chão e vai desamarrando as ataduras das mãos e pernas de Ryan.

 

BEN – (IRRITADO) Você quer voar, é?

 

Ben desamarra Ryan, o puxa pela gola da camiseta e joga o garoto no chão. Ryan apoia as duas mãos no chão e começa a chorar.

 

BEN – Tente, bonequinho. Bonequinho imprestável. Por dentro, está todo quebrado.

 

RYAN – (DESESPERADO) Por quê? Por que fazer isso comigo?

 

BEN – Por que eu posso?

 

Ryan tenta se arrastar pelo chão, mas Ben vai até ele e põe um de seus pés sob um dos pés quebrados de Ryan. Ryan dá um grito de dor e Ben começa a rir, se divertindo.

 

RYAN – (BERRA) Para com isso! (GEME) Socorro...

 

Ben se afasta do menino e vai até a porta. Ele segura a maçaneta e olha para Ryan.

 

BEN – Sobre os meus planos, bom, mudei de ideia. Seria muito cafona terminarmos nessa cabana. Vamos ir para outro lugar. Mas antes, eu vou preparar uma surpresinha para a delegada Kendra Parker. (PAUSA) Se quiser deitar, fique de joelhos e suba na cama.

 

E Ben sai batendo a porta com força. CLOSE no rosto pálido e sofrido de Ryan.

 

CENA 4. APARTAMENTO DE VIOLET. COZINHA. INTERIOR. DIA.

 

Violet pega uma xícara de café da pia da cozinha e se acomoda em volta da mesa. Ela pega um pedaço de pão de uma sacola e dá uma mordida. CLOSE num jornal fechado largado na mesa. Violet agarra o jornal e lê a notícia de capa.

 

VIOLET – (PERPLEXA) Meu Deus...

 

CLOSE na notícia principal do jornal: “Blake Morgan é assassinado em mansão Addams e polícia prende atiradora, identificada como Mabel Hargensen”.

 

VIOLET – Mabel... O que você fez?

 

CENA 5. CEMITÉRIO. EXTERIOR. DIA.

 

Dois pés femininos perpassam pela grama do cemitério e chegam até a frente de um enorme túmulo de mármore. CLOSE na inscrição: “Blake Edward Morgan. 1942-1969”. CÂMERA sobe pelos dois pés femininos e revela Jessica. Ela se abaixa e coloca uma rosa vermelha na lápide do ex-marido. Jessica dá um suspiro, sorri e vai caminhando pelo cemitério até a saída.

 

SEAN – (EM OFF) Como se sente agora sendo viúva?

 

CENA 6. CASEBRE DE SEAN. INTERIOR. DIA.

 

Jessica apoiada contra a pia da cozinha, pensativa. Sean com a porta da geladeira aberta, procurando alguma coisa. Ele pega uma caixa de leite e fecha a geladeira.

 

SEAN – (PARA JESSICA) Perdeu a língua?

 

JESSICA – (PENSA) Eu sei lá o que te responder Sean. Tudo está tão doido na minha cabeça desde a noite passada. Não consegui pregar o olho. A única coisa que eu via era a expressão de Blake prestes a morrer.

 

SEAN – É, eu entendo. Afinal ele foi seu marido por muito tempo.

 

JESSICA – Por quase 10 anos, entre namoro e casamento. Sabe o que é isso? 10 anos com a mesma pessoa. Nossa, eu e Blake vivemos muita coisa. Dividimos segredos, brigas, emoções que eu jamais pensei que dividiria com alguém. Apesar de ele ter me traído e tudo aquilo, eu não posso negar que ele foi uma peça importante da minha vida.

 

SEAN – Ninguém queria aquele destino para ele. Ele não merecia morrer. Merecia seguir em frente, como você seguiu.

 

JESSICA – Então respondendo a sua pergunta... como eu me sinto como uma viúva... Bom, eu simplesmente não me sinto como uma. Acho que Blake já havia morrido em mim a muito tempo.

 

Sean vai até Jessica e a agarra pelos braços. Jessica coloca a cabeça no ombro dele.

 

JESSICA – Eu só não queria que tivesse sido da maneira que foi. Ele não merecia. Apesar dos defeitos, também tinha qualidades, e eram muitas.

 

SEAN – (BAIXINHO) A partir de hoje, nós vamos viver a nossa vida querida. Sem Blake, sem família, só nós dois. Não temos mais nenhum impedimento.

 

Jessica sorri e dá um beijo na boca dele. Sean olha nos olhos dela, hipnotizado. É quando o vaso de flores perto da janela, em cima da cabeça de Jessica, se quebra em mil pedaços e os dois se assustam.

 

JESSICA – (PASMA) O que foi isso?

 

Sean olha para a janela de vidro da cozinha e percebe que dá um buraco de bala e estilhaços pelo chão.

 

SEAN – Merda, se abaixa!

 

E Sean puxa Jessica pro chão. Ele a abraça e eles vão pra debaixo da mesa.

 

JESSICA – (ALTO) O que está acontecendo?

 

CENA 7. CASEBRE DE SEAN. EXTERIOR. DIA.

 

CÂMERA abre no cano de uma arma calibre 30. CORTA PARA um homem negro, musculoso, com correntes no pescoço, com a arma em punhos, apontando-a contra a casa de Sean. Ao lado do homem, outros 5 rapazes, todos de óculos escuros, em cima de motos, também armados. O homem negro, e líder da turma, faz sinal de positivo e todos eles começam a descarregar as balas contra a casa de Sean. As balas vão quebrando os vidros das janelas e perfurando a porta.

 

CENA 8. CASEBRE DE SEAN. INTERIOR. DIA.

 

Sean e Jessica debaixo da mesa. Os vidros quebrados das janelas voam pelo chão. As balas perfuram as paredes. Jessica grita desesperadamente com as duas mãos nos ouvidos. Sean está sobre ela, com os olhos arregalados e muito assustado. Os tiros cessam. Tempo. Jessica destampa os ouvidos e olha para Sean.

 

SEAN – (SUSSURRA) Fica abaixada. Não levanta por nada nesse mundo.

 

Jessica concorda, calada, e Sean sai debaixo da mesa. Ele caminha até a janela quebrada da cozinha e olha para fora. CLOSE nos pés de Sean pisando sob os cacos de vidro. Sean põe parte da cabeça para fora do vidro e vê a gangue de bandidos na porta de sua casa. CLOSE na reação de tensão de Sean. O homem negro e musculoso pisca para Sean, recolhe a arma e sobe na moto de um dos capangas. As motos dão a partida e saem dali em disparada.

 

JESSICA – Quem eram aqueles homens?

 

Sean se vira gritando e segura nos ombros de Jessica.

 

SEAN – (ALTO) Eu disse que era para ter ficado debaixo da mesa!

 

JESSICA – (ENCARA) Você não me respondeu Sean. Quem eram aqueles homens?

 

CLOSES DESCONTÍNUOS em Jessica e Sean.

 

CENA 9. DELEGACIA DE NOVA IORQUE. SALA DE KENDRA. INTERIOR. DIA.

 

Kendra anda de um lado para o outro, nervosa, com as mãos na cintura. Larry entra afoito e fecha a porta.

 

KENDRA – (ANSIOSA) E então, alguma novidade?

 

LARRY – (CONCORDA) Como já suspeitávamos, os números davam a indicação para um lugar no meio da floresta.

 

KENDRA – (SUSPIRA) Eu sabia! Eu sabia! Ben Addams nos mandou sua localização, claro! Ele quer que cheguemos até ele.

 

LARRY – O que faremos agora delegada?

 

KENDRA – Calma, primeiro vamos pensar o que ele quer com isso.

 

LARRY – Como assim?

 

KENDRA – Um assassino foragido jamais mandaria o seu endereço assim do nada, desejando ser encontrado e preso. Ele tem algum plano.

 

LARRY – A senhora desconfia que possa ser uma armadilha?

 

KENDRA – (PENSA) Não sei... Podemos esperar tudo dele. Quem sabe uma armadilha. Mas não podemos deixar essa localização simplesmente passar batida.

 

Kendra olha para Larry com duvida. Lawrence abre a porta da sala e entra fazendo barulho.

 

KENDRA – (SE ASSUSTA) Mas o que é isso? Lawrence, você não pode entrar na minha sala sem ser anunciado. Espere lá fora.

 

LAWRENCE – Desculpe Kendra, mas eu preciso falar com você.

 

KENDRA – Não posso agora!

 

LAWRENCE – (ALTO) Recebi uma mensagem do meu filho.

 

KENDRA – (SE SURPREENDE) O Ben?

 

LAWRENCE – Lógico, eu lá tenho outro? (PAUSA) A mensagem veio pelo correio e dizia que eu deveria procura-la o mais rápido possível...

 

KENDRA – (ACHA GRAÇA) Claro... Ele sabia que eu descobriria seu paradeiro...

 

LAWRENCE – (SALTA) Vocês descobriram onde meu filho está escondido?

 

KENDRA – Por mais incrível que possa parecer, ele nos indicou o caminho. E para lá que estamos indo. (PARA LARRY) Providencia duas viaturas e chame Jermaine e Emily.

 

Larry concorda e sai. Lawrence segura Kendra pelo braço.

 

CENA 10. MANSÃO DOS ADDAMS. EXTERIOR. DIA.

 

Plano geral da mansão dos Addams.

 

CENA 11. MANSÃO DOS ADDAMS. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA.

 

CÂMERA abre na lareira da mansão acesa. Letitia joga alguns pedaços de madeira no fogo e se senta numa poltrona na frente da lareira. Ele esfrega as mãos e pega um livro que havia deixado em seu colo. Ela abre o livro e vai passando os olhos através das linhas no papel. É quando uma rosa amarela paira sob seu ombro. Letitia se vira e vê François.

 

FRANÇOIS – Por favor, aceite. Acabei de colher.

 

LETITIA – (SORRI) Obrigada, querido! Quanta gentileza.

 

Letitia pega a rosa e cheira, mais animada. François sorri e se ajoelha.

 

FRANÇOIS – Percebi que a senhora estava triste e decidi dar uma rosa para outra rosa. (SORRI) Seus olhos são da mesma cor da flor. Transmitem a mesma doçura.

 

LETITIA – Muito obrigada François. Você não tem a obrigação de me ser gentil. Quase esqueço o quando me ajudou com a Violet aquela vez e eu quase te meti em encrencas.

 

FRANÇOIS – Eu fiz e faria de novo. Percebo os sentimentos que a senhora tem sobre aquela mulher e acho que deve lutar por ela.

 

LETITIA – (BAIXA A CABEÇA) Não mais querido, não mais. Decidi que vou esquecer de Violet, que vou tirá-la de meu coração e ficar com meu marido e meu filho.

 

Letitia passa a mão na barriga.

 

FRANÇOIS – Não deve se punir assim. Você pode fugir do doutor Lawrence, pode ter a sua vida com Violet e seu bebê. Por que se prender a ele?

 

LETITIA – Não, eu não posso fugir do meu marido. E você sabe disso. Você está conosco a tanto tempo... E sabe o que se passa por dentro dessas paredes.

 

FRANÇOIS – Talvez eu saiba mesmo.

 

LETITIA – Então...

 

FRANÇOIS – Mas eu também sei que é uma mulher linda, que tem toda uma vida pela frente e não pode ficar presa em algo que não gosta apesar por imposição de outra pessoa. Você tem sentimentos, dona Letitia. Não os mascare, mas sim lute por eles.

 

LETITIA – Eu não posso!

 

FRANÇOIS – Pode sim! E sabe que pode! (PAUSA) Você pode se livrar do doutor Lawrence.

 

LETITIA – Como se isso fosse fácil...

 

FRANÇOIS – Mas é fácil. A senhora é mulher, tem as armas necessárias, e o melhor, tem o amor de seu marido.

 

LETITIA – (CURIOSA) O que está querendo dizer?

 

FRANÇOIS – Dê a ele a melhor noite de sua vida. Faça-o se sentir o melhor homem um mundo.

 

LETITIA – Eu jamais teria coragem de me deitar com ele novamente.

 

FRANÇOIS – Se você quer se livrar das correntes, há de ter coragem. Bom, depois que você fizer o que deve ser feito, você tem o dever de mata-lo, sem que ele veja ou sinta qualquer coisa. Um golpe de misericórdia.

 

LETITIA – (SURPRESA) Matar Lawrence?

 

FRANÇOIS – (ENCARA) É a sua única saída. Pense nisso.

 

François se levanta e sai da sala. CLOSE em Letitia, pensativa.

1.11 - PRECISAMOS FALAR SOBRE BENJAMIN

 

INTERVALO COMERCIAL

INTERVALO COMERCIAL

CENA 16. CASEBRE NA FLORESTA. EXTERIOR. DIA.

 

FADE IN na fachada do casebre em chamas. As labaredas consomem a madeira e saem para fora das janelas. Parte da equipe policial fora do local tenta jogar baldes de água contra o fogo, mas ele é forte e cada vez aumenta mais.

 

CENA 17. CASEBRE NA FLORESTA. INTERIOR. DIA.

 

Fogo por todos os lados. As cortinas do casebre pegam fogo. Partes da madeira do teto começam a cair. Os móveis todos estão cobertos de chamas. Alguns policiais estão caídos pelo chão. A fumaça aumenta. CLOSE em Lawrence jogado atrás do sofá. Ele abre os olhos com dificuldade e tenta se levantar, mas a fumaça é muito forte. Lawrence consegue se levantar e olha em volta. CLOSE em seu rosto ao ver a perplexidade do fogo.

 

LAWRENCE – (GRITA) Ajuda! (TOSSE) Oh céus...

 

Ele vai caminhando em direção a porta de saída, mas o teto está desabando e ele é obrigado a desviar dos pedaços de madeira. É quando, mais a frente, Lawrence encontra Kendra Parker jogada no chão, em volta de fogo, desacordada. Ele tampa o rosto, caminha até a delegada e a agarra pelos braços. Lawrence vai arrastando Kendra até a saída do casebre.

 

CENA 18. RUA DE NOVA IORQUE. EXTERIOR. DIA.

 

As pessoas saem de seus carros e correm desesperadas pela a avenida. Muito tiro. Bandidos entram pelo meio dos carros e começam a saquear os veículos. Jessica se agarra em Sean.

 

JESSICA – Nós temos que sair daqui.

 

Ele concorda e eles saem correndo com a multidão. CLOSE nos pés de Sean e Jessica pisando no asfalto. Os marginais vão empurrando as pessoas contra os carros e arrancam delas joias e bolsas. Sean e Jessica continuam correndo e a multidão fica cada vez maior. Sean e Jessica se abaixam e entram para debaixo de um carro. Ele a abraça com força e apenas observam as outras pessoas correrem e os tiros ecoarem.

 

JESSICA – (TRÊMULA) Meu Deus... O que é isso Sean?

 

SEAN – Um arrastão. Mas fica calma, não tem nada a ver com aqueles caras. Isso aqui é coisa de bandidinho.

 

JESSICA – Nós podíamos ter sido baleados.

 

SEAN – (PASSA A MÃO NA CABEÇA DELA) Temos que sair daqui Jessica. Não podemos ficar aqui em baixo. Eles podem colocar fogo dentro dos carros.

 

JESSICA – (ASSUSTADA) Mas para onde devemos ir?

 

SEAN – (RESPIRA FUNDO) Confia em mim.

 

Sean coloca a cabeça para o lado do cordão da calçada e sai. Ele dá a mão para Jessica e ela sai em seguida. Os dois se encostam na parede de uma loja de roupas e vão correndo pela extensão da calçada. Quando eles passam por um beco cheio de lixo, uma mão feminina agarra Sean e o puxa para dentro do beco. Jessica segue o namorado. Sean se afasta da mulher e eles se encaram. Jessica se abraça em Sean e eles encaram a mulher, que cobre seu rosto com um capuz preto.

 

MULHER – Venham comigo. Eu tenho um lugar seguro.

 

CENA 19. CASEBRE NA FLORESTA. EXTERIOR. DIA.

 

A porta do casebre é arrombada de dentro e Lawrence sai, carregando Kendra no colo. A ambulância já está ali. Dois enfermeiros vem com uma maca e ele coloca Kendra deitada. A delegada é levada para dentro da ambulância. Cansado e com o rosto manchado de preto, Lawrence se vira e olha a casa pegando fogo.

 

CENA 20. ESTRADA. EXTERIOR. DIA.

 

PLANO GERAL de um automóvel rodando por uma longuíssima estrada vazia. A CÂMERA vai dando diversos closes no veículo até CORTAR PARA dentro do carro. Ben Addams está na direção, com um sorriso sarcástico no canto da boca. Ele suspira fundo e ajeita o retrovisor. CORTA PARA dentro do porta-malas do carro. Ryan está com os braços e pernas atados, boca enfaixada, em completo desespero. CLOSE no rosto horrorizado de Ryan.

 

CENA 21. CASEBRE NA FLORESTA. EXTERIOR. DIA.

 

Kendra sendo observada pelos enfermeiros dentro da ambulância. Ela respira com a ajuda de um cilindro de oxigênio. Lawrence se aproxima da ambulância e Kendra se senta na maca, agitada.

 

KENDRA – (ASSUSTADA) Lawrence... Por favor... O que aconteceu... Eu... Eu estou muito confusa!

 

LAWRENCE – Foi uma cilada, querida. Meu filho armou isso para acabar com você e com essa investigação.

 

KENDRA – (PÕE A MÃO NA CABEÇA) Não pode ser. O que causou a explosão? Uma bomba?

 

LAWRENCE – É o mais provável. Mas eu não sei onde Ben conseguiria uma bomba, de qualquer forma ele conseguiu o que ele queria.

 

KENDRA – (PENSA) Ele queria me matar para poder fugir sem ser visto. Com Ryan.

 

LAWRENCE – É aí que você se engana delegada. Acho que meu filho nunca desejou a sua morte.

 

KENDRA – (ENCARA) E qual é a sua teoria, doutor?

 

LAWRENCE – Ele sabia que as estradas estavam fechadas. E precisava que elas estivessem livres. Como fazer isso? Chamando a atenção de todo mundo com um incêndio. A explosão.

 

KENDRA – (ALTO) Mas é claro! Ele queria que todas as atenções estivessem voltadas para nosso acidente! Para que ele possa fugir!

 

Kendra arranca o aparelho de respiração do nariz e salta da ambulância. Um dos enfermeiros tenta agarrar ela.

 

KENDRA – (SE SACODE) Me larga!

 

ENFERMEIRA – A senhora não pode sair assim! Aspirou muita fumaça! Deve ficar em repouso!

 

KENDRA – (SE SOLTA) Eu não posso parar agora que estou muito perto. Vou chamar todas as viaturas. Nós vamos capturar Ben Addams.

 

Kendra encara Lawrence e sai.

 

CENA 22. CASA DE CHANTAL. SALA. INTERIOR. DIA.

 

A mulher de capuz entra na humilde casa seguida de Jessica e Sean. Receoso, o casal olha para todos os lados. A mulher caminha até mais a frente.

 

SEAN – (ALTO) Quem é você? Que lugar é esse?

 

MULHER – Como você é capaz de não reconhecer a minha voz, meu amigo...

 

A mulher tira o capuz e se vira para Sean e Jessica. CLOSE na expressão de surpresa de Sean ao ver a mulher negra, alta, de cabelos rastafári.

 

SEAN – (PERPLEXO) Chantal? É você?

 

CHANTAL – (ABRE OS BRAÇOS) Não vai me dar um abraço?

 

SEAN – Caramba, é claro! Que surpresa!

 

Sean abraça Chantal, ainda surpreso. Jessica cruza os braços, irritada.

 

SEAN – (SEGURA NAS MÃOS DELA) Eu não te vejo a quantos anos? Uns 10? Como você mudou!

 

CHANTAL – (SORRI) Faz bastante tempo mesmo. E nós mudamos, por que você está mais bonito do que era.

 

SEAN – (SEM GRAÇA) Que isso...

 

JESSICA – (RESMUNGA) Então vocês já se conhecem?

 

SEAN – (SE VIRA) Ah, Chantal, essa aqui é a minha mulher, a Jessica.

 

Jessica vai até Chantal e elas se cumprimentam. Jessica olha com desagrado para a morena.

 

CHANTAL – Prazer, Jessica.

 

JESSICA – Pena que não posso dizer o mesmo!

 

CHANTAL – (NÃO ENTENDE) Como disse?

 

JESSICA – (ALTO) Digo o mesmo! O prazer é todo meu! (PARA SEAN) Posso saber de onde se conhecem? Não que eu esteja com ciúmes, obviamente.

 

SEAN – Eu e Chantal fomos criados juntos num reformatório em Nova Orleans. Lembro como se fosse hoje do dia em que cheguei e que a única que virou minha amiga foi ela. Daí então nos tornamos irmãos, até os 18, que foi quando eu saí e seguimos outros rumos.

 

CHANTAL – (PARA JESSICA) Ele é um homem de ouro Jessica. Você tem sorte de tê-lo como marido.

 

JESSICA – Ele não é meu marido.

 

CHANTAL – Que seja. Sean sofreu muito na vida, principalmente passando todos aqueles anos no reformatório, e com os tios não lhe dando a mínima atenção.

 

SEAN – Foi realmente muito difícil.

 

CHANTAL – Mas me contem, o que faziam no meio daquele tiroteio? Podiam ter sido atingidos.

 

SEAN – (SEM GRAÇA) É... As coisas andam complicadas Chantal. Nós tivemos que fugir de casa senão acabaríamos mortos.

 

CHANTAL – (PREOCUPADA) Mortos?

 

SEAN – Eu me meti numa furada, entende? Com uns caras aí, uns bandidos, e não tive como pagar o que eu devia. Eles foram até a nossa casa e atiraram para nos assustar. Foi um aviso. Por isso fugimos, senão seriamos mortos.

 

CHANTAL – Bom, podem ficar aqui em casa até tudo se ajeitar. É um lugar pequeno, mas aconchegante.

 

JESSICA – (SUSPIRA) E pensar que eu poderia estar na minha cama de penas de ganso nesse momento.

 

CHANTAL – (ACHA GRAÇA) O que ela disse?

 

SEAN – (SORRI) Besteira. Obrigado pela ajuda Chantal. Você sempre me ajudando, nossa, nem sei como agradecer.

 

CHANTAL – Agradeça sendo feliz.

 

CENA 23. DELEGACIA DE NOVA IORQUE. SALA DE KENDRA. INTERIOR. DIA.

 

Kendra bate com a palma da mão na mesa com ódio. Dois policiais estão na frente dela.

 

POLICIAL #1 – Delegada, a senhora não pode estar aqui, ainda está debilitada, poderia ter morrido!

 

Kendra tosse e coloca a mão no peito.

 

KENDRA – (COM RAIVA) Eu não preciso de nenhum hospital Jermaine. Eu não posso deixar Ben Addams me enganar dessa forma.

 

JERMAINE – E o que acha que pode fazer?

 

KENDRA – Reforce todas as saídas da cidade, por favor. Eu vou até uma localidade aqui perto.

 

JERMAINE – Combinado.

 

KENDRA – Alguma notícia sobre Larry?

 

JERMAINE – (BAIXA A CABEÇA) Não sobreviveu.

 

Kendra suspira e concorda com a cabeça. Jermaine e o outro policial saem. CLOSE nos olhos enfurecidos da delegada.

 

CENA 24. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE LAWRENCE. INTERIOR. DIA.

 

Lawrence se joga em sua cama de bruços. A CÂMERA foca em seu rosto sujo e cansado. Ele esfrega os olhos e boceja. Batem na porta. Lawrence se levanta e abre. É Martinez.

 

LAWRENCE – (SUSPIRA) Algum problema?

 

MARTINEZ – (ENTRA) O que aconteceu com o senhor?

 

LAWRENCE – (FECHA A PORTA) Um acidente, mas está tudo bem. Eu só preciso tomar um banho e ir dormir.

 

MARTINEZ – Bom, menos mal.

 

LAWRENCE – E você, o que traz para mim? Sabe que eu odeio que entre em meu quarto. Para tamanha ousadia, presumo que seja importante.

 

MARTINEZ – E é doutor. É sobre Mabel.

 

LAWRENCE – Sobre aquela prostituta? Não é mais problema nosso, mas sim de Deus.

 

MARTINEZ – Esse é o problema.

 

LAWRENCE – (PARALISA) O que quer dizer com isso?

 

MARTINEZ – Eu fiz tudo como combinados, subornei o enfermeiro, entrei no local e armei para que a morte dela parecesse suicídio.

 

LAWRENCE – (ALTO) Então o que deu errado?

 

MARTINEZ – Hoje pela manhã eu retornei ao manicômio para saber do corpo e, bom, descobri que Mabel desapareceu.

 

LAWRENCE – Como desapareceu? Um cadáver não pode sair andando por aí.

 

MARTINEZ – É aí que está. Ela não estava morta. Ela fugiu com a ajuda de alguém.

 

CENA 25. APARTAMENTO. SALA. INTERIOR. DIA.

 

Uma mulher de cabelos castanhos claros está observando a rua pela sacada do apartamento. Cotton sai da cozinha com duas xícaras de café e anda até a mulher, oferecendo café a ela. A mulher se vira e revela-se Mabel. Mabel sorri e pega a xícara de café. CLOSE em seus pulsos enfaixados.

 

MABEL – Obrigada.

 

COTTON – Como você está? Dormiu bem?

 

Mabel caminha pelo apartamento e se senta em um sofá branco. Cotton se senta ao lado dela.

 

MABEL – Acho que sim, mas ainda sinto um pouco de tontura.

 

COTTON – Você perdeu muito sangue querida, é normal se sentir tonta assim, mas está tudo bem agora. Você está a salvo aqui.

 

MABEL – Eu ainda não te agradeci.

 

COTTON – Agradecer?

 

MABEL – Por ter me salvo noite passada. Se você não tivesse invadido aquela clínica, eu provavelmente estaria morta.

 

COTTON – (CONCORDA) É, é verdade. Mas você não precisa agradecer. Eu fiz o que Deus me disse para fazer. Segui meu coração. Tinha certeza que Lawrence faria alguma coisa contra você.

 

MABEL – Eu tenho certeza que foi Martinez que invadiu meu quarto. Me lembro do rosto dele minutos antes de desmaiar.

 

COTTON – Lawrence te quer morta.

 

MABEL – Eu só não entendo por que fazer isso? Você deveria ter me deixado morrer pela tempestade que eu fiz na sua vida.

 

COTTON – Não, eu não podia. Depois daquela noite... depois do que aconteceu com Blake... eu percebi que não posso negar o sentimento que tenho por ti.

 

MABEL – (SORRI) Você me ama?

 

COTTON – (ALISA O ROSTO DELA) Mais do que a minha vida. E acho que podemos ficar juntos.

 

MABEL – (SURPRESA) Oh meu Deus Cotton, é impossível. Eu matei um homem. A polícia me quer na cadeia. E seu irmão pode me matar. Nunca poderemos ficar juntos.

 

COTTON – Alguma vez eu já menti pra você?

 

MABEL – Não.

 

COTTON – Então eu prometo que daremos um jeito. Ficaremos juntos. Nem que para isso eu precise abdicar de Jesus.

 

CENA 26. CASA DE CHANTAL. SALA. INTERIOR. DIA.

 

Chantal sentada no chão da sala de sua casa. Ela despeja um pó branco em cima da mesinha de dentro e vai fazendo uma carreirinha. Jessica sai de um quarto e vê Chantal. Chantal aproxima o nariz do pó na mesa e aspira. Ela fecha os olhos e encosta as costas no sofá. Jessica caminha até ela.

 

JESSICA – Posso?

 

Chantal concorda com a cabeça. Jessica se senta ao lado dela, ajeita o pó e cheira. Jessica sacode a cabeça e começa a rir. Relaxada, ela também se escora no sofá e encosta a cabeça no ombro de Chantal.

 

JESSICA – Isso é maravilhoso.

 

CHANTAL – (SORRI) Pra caralho.

 

JESSICA – Eu acho que nunca mais quero voltar para a minha casa.

 

CHANTAL – Se quiser, pode ficar aqui.

 

JESSICA – (RI) Nunca. Sua casa é abarrotada de pulgas e carrapatos.

 

Chantal sacode o ombro e Jessica se afasta.

 

JESSICA – Então você e o Sean tiveram uma relação bastante intensa a alguns anos atrás?

 

CHANTAL – Como eu havia dito, eu fui a irmã que Sean nunca teve. Eu protegi ele contra todos os perigos. Temos uma ligação muito forte.

 

JESSICA – Obrigada por ter ficado com ele.

 

CHANTAL – Eu sei. Ele é um homem admirável apesar do que passou.

 

JESSICA – Posso te perguntar uma coisa?

 

CHANTAL – Tudo o que quiser.

 

JESSICA – Não me leva a mal, mas foi você que apresentou as drogas ao Sean?

 

Chantal olha para Jessica e se levanta do chão.

 

JESSICA – Onde vai? Eu te fiz uma pergunta.

 

CHANTAL – Pergunte a ele.

 

E Chantal vai para a cozinha. CLOSE em Jessica.

CENA 27. RODOVIA. EXTERIOR. DIA.

 

Duas viaturas policiais estão trancando uma grande rodovia no interior da cidade. Quatro policiais armados fazem a vigia no local. CORTA PARA o carro de Ben. O rapaz dirige usando um boné e escuta música no rádio. Ele faz uma curva e vê a barricada da polícia. Nervoso, Ben baixa o volume do rádio e pega uma arma que estava dentro do porta luvas. Os policiais fazem sinal para Ben parar o carro. Temeroso, ele obedece as ordens da polícia e estaciona o veículo mais a frente. Um dos policiais se aproxima do vidro.

 

BEN – Boa tarde.

 

POLICIAL #1 – Boa tarde, tem os documentos?

 

BEN – (TENSO) Claro.

 

Ben pega a carteira de dentro do bolso da calça, tira os documentos e entrega ao policial. CLOSE no nome escrito no documento: EDWARD SIMPSON. O policial olha a foto no documento e olha para Ben.

 

POLICIAL #1 – Edward, correto?

 

BEN – Exatamente senhor policial, algum problema?

 

O policial o encara, se vira e vai em direção ao outro policial, que estava mais afastado. O policial #1 mostra o documento de Ben para o policial #2 e eles conversam. Ben aproveita e coloca a pistola na cintura. O policial retorna ao carro de Ben.

 

BEN – Alguma coisa errada?

 

POLICIAL #1 – Eu vou precisar dar uma olhada em seu carro, Edward.

 

BEN – Sem problemas!

 

POLICIAL #1 – Você pode descer, por favor.

 

Ben concorda e desce do veículo. O policial olha para ele desconfiado e entra no carro. Olha debaixo dos bancos, dentro do porta luvas, na parte traseira, mas não encontra nada.

 

BEN – Alguma coisa?

 

POLICIAL #1 – (SAI DO CARRO) Nada de anormal.

 

BEN – Então eu posso ir?

 

POLICIAL #1 – Pode sim, mas preciso ver dentro do porta-malas.

 

BEN – (ALTO) No porta-malas?

 

POLICIAL #1 – Algum problema?

 

Os outros policiais percebem a irritação se Ben e ficam com as armas em punho. Ben engole a seco e sorri para o policial #1.

 

BEN – Não há nada no porta-malas que o interesse.

 

POLICIAL #1 – Portanto não vejo razão para que não seja aberto.

 

CORTA PARA dentro do porta-malas. Ryan está adormecido, ainda com pés e mãos amarradas e boca amordaçada.

 

BEN – (EM OFF) Bom, eu acho que isso não seja necessário, policial!

 

E Ryan arregala os olhos assustado. Ele tenta se mexer e respira ofegante.

 

POLICIAL #1 – (EM OFF) As chaves do porta-malas, por favor.

 

E o menino começa a dar pequenos saltos de dentro do porta malas, batendo o corpo contra a porta, fazendo barulho. CORTA PARA fora do carro. O policial percebe as batidas fortes vindo do porta-malas e encara Ben.

 

POLICIAL #1 – (ALTO) O que significa isso?

 

Quando o policial vai puxar sua arma, Ben é mais rápido, saca sua pistola e aponta para a cabeça do policial #1.

 

BEN – Eu disse que não era para abrir o porta-malas, idiota.

 

E Ben dispara contra a cabeça do policial #1. Quando o policial cai no chão morto, Ben se vira e atira contra outro policial que estava atrás dele. Os outros dois policiais atiram contra Ben, mas ele se joga no chão, rola por debaixo do seu carro e entra no veículo. Os policiais atiram contra o carro de Ben. Ben põe a mão contra a janela e atira. Ele liga o carro, pisa no acelerador e sai cantando pneus. Os outros dois policiais entram na viatura e dirigem atrás de Ben.

 

CENA 28. MANSÃO DOS ADDAMS. SALA. INTERIOR. DIA.

 

Dianne sentada no sofá tomando chá. Cotton entra na mansão e Dianne larga a xícara na mesinha de apoio ao lado do sofá.

 

DIANNE – Meu filho, por onde esteve? Não te vi no café da manhã.

 

COTTON – Resolvendo alguns problemas.

 

DIANNE – Que tipo de problemas?

 

COTTON – A senhora vai saber mamãe. E espero que me apoie.

 

DIANNE – Oh céus, fiquei ligeiramente nervosa. Fale o que houve Cotton.

 

COTTON – (CHAMA) François.

 

O mordomo François vem rapidamente da cozinha e fica em pé atrás do sofá onde está Dianne.

 

FRANÇOIS – Sim?

 

COTTON – Chame Lawrence e Letitia. O que preciso dizer deve ser na frente de toda a família.

 

François concorda e sobe a escadaria para o segundo andar. Dianne olha para Cotton apavorada. CORTA PARA Lawrence e Letitia descendo a escadaria até a sala. Dianne se levanta e vai até o filho.

 

LAWRENCE – Qual o problema Cotton?

 

DIANNE – (PARA LAWRENCE) O seu irmão disse que tem algo de muito sério para falar com toda a família.

 

LETITIA – (OLHA EM VOLTA) E pensar que já fomos muito maiores em número.

 

LAWRENCE – Bom, já estamos todos aqui Cotton, pode falar. Espero que seja breve.

 

COTTON – Acho que não vou precisar falar mais nada. Vocês vão entender quando ela entrar.

 

DIANNE – Ela?

 

Cotton abre a porta da mansão e Mabel entra, imponente, encarando Lawrence. CLOSE na expressão de horror do vilão. Dianne se segura em Letitia e põe a mão no peito.

 

DIANNE – (PASMA) Essa mulher... O que essa mulher está fazendo aqui?

 

COTTON – A partir de hoje, Mabel não é apenas essa mulher, mas sim a minha mulher. Decidi assumir algo que vinha sentindo desde quando a vi.

 

E ele e Mabel se dão as mãos. Lawrence olha dentro dos olhos de Mabel do ódio.

 

DIANNE – Isso... Isso está errado! Você é um Padre, Cotton! No que está pensando? Onde enfiou sua cabeça?

 

COTTON – Eu não posso nadar contra uma corrente que vem me arrastando a muito tempo. Eu amo a Mabel e ela está esperando um filho meu.

 

DIANNE – (APONTA) Essa mulher é o diabo em sua vida. Isso não pode ser real! Eu só posso estar sonhando!

 

COTTON – Amanhã eu vou entrar com o pedido para abandonar o sacerdócio. Não serei mais Padre. Por mais que eu ame Deus, meu amor por Mabel é maior.

 

DIANNE – E o que você acha? Que eu vou permitir que essa mulher pise nessa casa?

 

COTTON – Ela vai viver aqui comigo como minha mulher. Você pode dizer o que quiser, está definido.

 

DIANNE – (GRITA) Ela invadiu nossa casa e assassinou Blake. É uma fugitiva. Eu vou ligar imediatamente para a polícia.

 

COTTON – Eu não faria isso se fosse você mamãe.

 

DIANNE – Vai me ameaçar agora?

 

COTTON – Aqui vai mais uma condição do meu “contrato”. Se a polícia aparecer, todos irão dizer que Mabel era inocente. Que ela atirou em Blake por legítima defesa.

 

DIANNE – Não vou ajuda-lo a salvar essa assassina.

 

COTTON – Se não concordarem com isso, eu vou publicamente a imprensa falar de tudo que acontece dentro da nossa família. Inclusive da morte do papai. O que você acha disso, Dianne Addams?

 

DIANNE – (PASMA) Você não teria coragem!

 

COTTON – Ah eu teria. Essas são as minhas condições. O que vocês preferem?

 

Dianne se vira para Lawrence e o agarra pelo colarinho.

 

DIANNE – Faça alguma coisa Lawrence!

 

LAWRENCE – Não farei absolutamente nada mamãe. Cotton está certo. Não vou impedi-lo de nada. Já foram muitas emoções pelo dia de hoje.

 

DIANNE – O que?

 

LAWRENCE – Por mais que eu abomine essa Mabel, prezo pelo nome de nossa família. Amanhã mesmo iremos todos depor a favor dela nos tribunais. E que assim seja. Sorte a ela e a esse bebê que está esperando. (SORRI) Vou dormir.

 

Lawrence dá meia volta e vai para o segundo andar. Dianne se vira para Letitia.

 

DIANNE – E quanto a você?

 

LETITIA – Bem-vinda Mabel.

 

E Letitia vai atrás de Lawrence. Mabel sorri, vitoriosa. Dianne se vira e a encara, com raiva.

 

CENA 29. CASA DE CHANTAL. SALA. INTERIOR. DIA.

 

Sean jogado no sofá, com os pés em cima da mesinha de centro. Chantal vem com duas garrafas de cerveja, se senta ao lado do rapaz e entrega uma bebida e ele.

 

SEAN – Valeu, estava precisando de um pouco de álcool pra enfrentar o que estou enfrentando.

 

CHANTAL – Um brinde?

 

SEAN – Brinde a que?

 

CHANTAL – Ao nosso reencontro!

 

Sean concorda e eles brindam. Chantal bebe, mas Sean fica fitando a garrafa de cerveja.

 

CHANTAL – Não vai beber? Minha avó costumava dizer que brinde sem beber é 10 anos sem fuder.

 

Sean cai na gargalhada.

 

SEAN – Oh Deus, então é melhor eu dar um bom gole.

 

Sean bebe um pouco da cerveja e sorri para Chantal. Chantal passa a mão pelo rosto dele.

 

SEAN – O que foi?

 

CHANTAL – Incrível como você não mudou nada. É o mesmo garoto de anos atrás. Com o mesmo brilho nos olhos. As mesmas expectativas.

 

SEAN – Eu mudei muito Chantal, você é que não está sabendo identificar. Eu presenciei coisas nas ruas que jamais presenciei com você.

 

CHANTAL – E essa garota, Jessica. Qual a dela? Pelo que eu saiba ela é rica. Filha de Lawrence Addams, o neurocirurgião.

 

SEAN – Eu encontrei o amor com a Jessica. Ela é a mulher perfeita pra mim, que me apoia em tudo. Ela abandonou a família para viver o nosso amor.

 

CHANTAL – Ela é melhor que eu?

 

Chantal larga a cerveja na mesinha e se senta no colo de Sean, assustando-o. Ela esfrega suas mãos no peito dele.

 

SEAN – (AGITADO) Chantal!

 

CHANTAL – Vamos lá Sean! Acha que eu não notei os olhares que me deu desde o momento em que entrou por essa porta? Eu sei que você ainda tem sentimentos por mim.

 

SEAN – Chantal! (NERVOSO) A Jessica!

 

CHANTAL – Ela está tomando banho, nem vai notar se a gente fizer uma brincadeirinha. Lembra de como costumávamos brincar? Você adorava!

 

SEAN – (FECHA OS OLHOS) Não posso!

 

CHANTAL – (LAMBE O PESCOÇO DELE) Você não pode ir contra uma coisa que está dentro de você. É seu instinto Sean!

 

JESSICA – (EM OFF) Mas que putaria é essa?

 

Chantal se vira assustada e vê Jessica atrás dela, com os cabelos molhados, perplexa.

 

JESSICA – (FURIOSA) O que você está fazendo em cima do meu homem, vadia?

 

Sean empurra Chantal e se levanta. Chantal cai deitada no sofá.

 

SEAN – (NERVOSO) Jess, deixa eu explicar!

 

JESSICA – Cala a boca por que o meu assunto é com ela. (APONTA PÁRA CHANTAL) É com essa vadia.

 

CHANTAL – (SE LEVANTA) Eu não posso fazer nada se o seu homem não resiste a mim, querida.

 

JESSICA – Ah, mas eu vou te mostrar quem não resiste a você, sua puta!

 

E Jessica avança em Chantal, derrubando-a no chão.

 

CHANTAL – (GRITA) Me larga!

 

JESSICA – (ALTO) Calada, piranha, calada! Vai apanhar sem dizer uma só palavra!

 

E Jessica dá um soco no rosto de Chantal. Chantal grita de dor. Com mais ódio, Jessica se agarra nos cabelos da moça e arranca um tufo com a mão.

 

CHANTAL – (BERRA) Ai, socorro! Ela vai me matar! Socorro!

 

JESSICA – Vontade não me falta! (ENCARA) Se fez de minha amiga pra pegar o meu homem de mim? Mas nem morta, meu amor! Ou melhor, só morta.

 

Jessica coloca as duas mãos no pescoço de Chantal e aperta com força. Chantal começa a tossir e se espernear. Jessica sufoca a moça com mais raiva. Chantal revira os olhos e desmaia. Sean puxa Jessica, assustado, e os dois olham para Chantal.

 

SEAN – (ASSUSTADO) Ela está morta?

 

JESSICA – Eu não sei. (OLHA PARA ELE) Temos que ir embora daqui.

 

CENA 30. ESTRADA. EXTERIOR. DIA.

 

O carro de Ben anda em alta velocidade, ultrapassando os outros veículos. Mais atrás, a viatura da polícia o persegue com a sirene ligada. CORTA PARA dentro do carro de Ben. O vilão olha pelo retrovisor e soa frio, nervoso.

 

BEN – (BATE NO VOLANTE) Merda! Merda! Isso não podia ter acontecido!

 

CORTA PARA fora do carro. O veículo da polícia se aproxima com rapidez do carro que Ben está dirigindo e deixa o rapaz encurralado. PLANO GERAL de uma ribanceira mais a frente, na costa de uma grande floresta. CORTA PARA dentro do carro de Ben. Ben pisa o acelerador e limpa o suor da testa. Ele pensa por alguns segundos e, quando está prestes a fazer uma curva, larga as mãos do volante. PLANO GERAL do carro de Ben despencando no desfiladeiro, rolando metros abaixo e caindo na copa das árvores da floresta. CORTA PARA a ponta da ribanceira. O carro da polícia estaciona e os dois policiais descem. Eles observam lá de cima o carro de Ben todo destruído. A CÂMERA dá diversos closes, se aproxima do carro de Ben e CORTA PARA dentro do porta-malas. Ryan está desmaiado e com a cabeça sangrando.

 

CENA 31. MANSÃO DOS ADDAMS. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA.

 

Lawrence coloca dois cubos de gelo num copo de uísque se senta confortavelmente em sua poltrona. Dianne invade o escritório desesperada.

 

DIANNE – Como você pode ter aceitado a ideia de termos essa garota de programa aqui em casa?

 

LAWRENCE – Calma, mamãe...

 

DIANNE – Eu não vou ficar calma. Eu não tenho como ficar calma.

 

LAWRENCE – Para nós é melhor termos a Mabel por perto do que longe. Acredite em mim. Nunca ouviu aquela famosa frase? Se não pode com o inimigo una-se a ele?

 

DIANNE – Tenho medo dela destruir a vida do seu irmão.

 

LAWRENCE – Cotton é um idiota, a senhora sabe, sempre foi. Não vou permitir que ele abandone tudo por ela. Eu tenho alguns planos na cabeça para nos afastarmos de Mabel para sempre.

 

DIANNE – Que espécie de planos?

 

LAWRENCE – (SORRI) A senhora vai saber.

 

CENA 32. NOVA IORQUE. RUAS. EXTERIOR. NOITE.

 

PLANO GERAL das ruas da cidade de Nova Iorque. Jessica e Sean vagam por uma calçada movimentada, maltrapilhos, com as roupas sujas. Eles se abraçam e observam a vitrine de uma loja de luxo.

 

HOMEM – (EM OFF) Jessica Addams?

 

Jessica se vira assustada e vê um jornalista perto de onde elas estão. Ele se aproxima dos dois com sua máquina fotográfica.

 

JESSICA – Quem é você?

 

HOMEM – (SORRI) Sou Joel Manhattan, do New York Times, será que você pode dar uma entrevista e tirar uma foto para o jornal?

 

JESSICA – (BRAVA) Mas é lógico que não. Como ousa?

 

JOEL – (ALTO) Você está vivendo nas ruas Jessica? Como está sendo essa experiência?

 

JESSICA – (AVANÇA) Cale-se, seu metido!

 

SEAN – (SEGURA JESSICA) Calma!

 

JESSICA – (APONTA) Se você colocar uma foto minha sequer nesse jornal eu chamo os meus traficantes e mando eles entrarem lá metendo bala, ouviu? Não me ameace!

 

Jessica encara o fotógrafo e sai com Sean. Joel sorri e tira um bloquinho do bolso.

 

JOEL – (COMEÇA A ESCREVER) A redação vai amar essa história.

 

CENA 33. HOSPITAL ESTADUAL DE NOVA IORQUE. EXTERIOR. NOITE.

 

PLANO GERAL do hospital da cidade.

 

CENA 34. HOSPITAL ESTADUAL DE NOVA IORQUE. UTI. QUARTO. INTERIOR. NOITE.

 

Ryan deitado em uma maca, com a cabeça e os pés enfaixados, tomando soro e tendo os batimentos controlados por aparelhos. Atrás do vidro que isola o quarto estão Sarah e Wayne velando o sono do menino. Sarah olha para Wayne e sorri, emocionada. Eles se dão as mãos e continuam a observar o menino. Mais longe dali, a delegada Kendra está conversando com o policial Jermaine.

 

JERMAINE – Acha que ele vai ficar bem?

 

KENDRA – Vai sim. Teve alguns ferimentos, mas nada de grave. Ele vai saber passar por cima disso com a ajuda da família.

 

JERMAINE – E quanto ao Ben Addams?

 

KENDRA – Nem vestígios.

 

JERMAINE – Talvez o corpo tenha sido lançado do carro na hora da queda e ele esteja morto.

 

KENDRA – O corpo dele não foi encontrado e não havia como ele ser jogado do carro, de acordo com a perícia. Ben Addams está vivo.

 

CLOSE em Kendra, preocupada.

CENA 35. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE LETITIA. INTERIOR. NOITE.

 

Letitia deitada de bruços em sua cama. Ela está pensativa e olha para o relógio no criado mudo. Rápida, Letitia se levanta, vai até o espelho e tira o roupão de seda, ficando apenas de camisola. Letitia fecha os olhos e sai do quarto.

 

CENA 36. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE LAWRENCE. INTERIOR. NOITE.

 

Lawrence sem camisa, sentado no parapeito da janela de seu quarto. Ele fuma um cigarro e joga a fumaça para a rua. Batem na porta. Letitia entra e Lawrence se vira para a esposa.

 

LETITIA – Ocupado?

 

Lawrence joga o cigarro fora.

 

LAWRENCE – Não, estava apenas pensando em tudo que aconteceu hoje. Acho que precisamos falar sobre Benjamin.

 

LETITIA – (SE APROXIMA) Não hoje. Está uma noite tão bonita, vamos pensar apenas em coisas boas.

 

LAWRENCE – O que quer aqui?

 

LETITIA – Como disse?

 

LAWRENCE – Bom, você dificilmente vem ao meu quarto a noite. O que quer Letitia?

 

LETITIA – (FECHA OS BRAÇOS) Eu estava com tanto frio e me peguei lembrando de como nos conhecemos. Da nossa primeira noite de amor.

 

Letitia toca nos braços do marido e começa a fazer carinho, amorosa. Lawrence olha desconfiado para ela.

 

LAWRENCE – Pra que lembrar disso agora? Você mesma disse que se pudesse mudar tudo mudaria. Que jamais teria me conhecido.

 

LETITIA – Isso pode ser até verdade, mas... Eu não posso negar que você é um dos homens mais charmosos que eu conheci.

 

Letitia dá um beijo nas costas do marido e Lawrence caminha até o centro do quarto, assustado. Letitia se aproxima dele.

 

LETITIA – O que foi? Por que está fugindo de mim?

 

LAWRENCE – Por que você me odeia. (ESFREGA O ROSTO) Você não pode fazer isso comigo.

 

LETITIA – Eu estou tão carente Lawrence. Carente de carinho, de amor, de sexo. Eu não posso correr contra o que eu estou sentindo.

 

Letitia levanta as alças da camisola, afasta de seus ombros e deixa a peça de roupa cair no chão. Letitia fica inteiramente nua na frente do marido.

 

LETITIA – Me possua Lawrence. Me faça sentir como uma mulher de verdade. Faça que eu perceba que nunca poderia ser feliz de verdade.

 

LAWRENCE- (NERVOSO) Meu Deus...

 

Letitia fica cada vez mais próxima do marido e cola seu corpo no dele. Lawrence revira os olhos, com desejo. Ela passa sua mão nas partes íntimas do marido por cima da calça e o leva a loucura.

 

LETITIA – Me coma Lawrence. Eu estou suplicando como uma cadela no cio. Me jogue nessa cama, me chupe, me devore. Me possua!

 

Lawrence agarra Letitia pelo cabelo com força e ela dá uma risadinha safada. Ele apalpa as nádegas dela e chupa o pescoço de Letitia.

 

LETITIA – (FECHA OS OLHOS) Isso... Gostoso!

 

LAWRENCE – (SUSSURRA) Você me leva a loucura!

 

E Lawrence joga Letitia contra a cama. Ela abre as pernas e esfrega a mão na própria vagina, fazendo movimentos sensuais. Lawrence sorri e monta sob ela. CORTA PARA a sombra dos corpos na parede.

 

CENA 37. ESTRADA. EXTERIOR. NOITE.

 

 

 

Um veículo escuro atravessa uma estradinha que passa pelo meio de uma floresta cheia de árvores. Os faróis do carro iluminam o caminho. CORTA PARA dentro do carro. Violet está com as duas mãos firmes no volante e dirige com uma expressão de seriedade. CLOSE em Violet.

 

CENA 38. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE COTTON. INTERIOR. NOITE.

 

(Música da cena anterior continua).

 

Cotton e Mabel deitados na cama abraçados. Ela está de olhos fechados, dormindo, enquanto ele permanece de olhos abertos. Cotton vira a cabeça e vê seu crucifixo sobre o criado-mudo. CLOSE em Cotton.

 

CENA 39. VIADUTO. EXTERIOR. NOITE.

 

(Música da cena anterior continua).

 

Os carros passam por cima de um viaduto em alta velocidade. Muito barulho de sirenes. CÂMERA CORTA PARA debaixo do viaduto. Sean e Jessica estão deitados em um canto sujo, cheio de lixo, enrolados com um cobertor velho. Os dois dormem feito crianças.

 

CENA 40. CLÍNICA DE LAWRENCE. EXTERIOR. NOITE.

 

(Música da cena anterior continua).

 

Violet salta de seu carro e caminha em direção ao gramado da clínica de Lawrence. Ela coloca uma luva de borracha na mão e chega até a porta de entrada. Violet retira um clips do bolso. Com delicadeza, ela coloca o clips na fechadura, dá uma girada e consegue destrancar a porta. Violet olha para trás e, rápida, entra na clínica.

 

CENA 41. LOCAL MISTERIOSO. INTERIOR. NOITE.

 

(Música da cena anterior continua).

 

CLOSE em uma vela acesa. O rosto de Ben surge na tela e fica encarando a chama da vela. O local onde ele está não é identificado, por que tudo em volta está escuro. Ben ergue uma foto de Ryan e coloca sob o fogo, fazendo a foto queimar. CLOSE em Ben, psicótico. Vendo a fotografia queimar por completa.

 

CENA 42. CLÍNICA DE LAWRENCE. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.

 

(Música da cena anterior continua).

 

FECHA nos pés de Violet caminhando pelo extenso corredor da clínica de Lawrence. CLOSE no rosto apreensivo de Violet. Ela vai passando por diversas portas sem saber o que fazer. É quando uma mão masculina a agarra pela boca. Violet vai gritar, mas recebe uma injeção ao lado da barriga e, lentamente, vai desmaiando até cair nos braços do homem. O homem levanta Violet e olha bem para seu rosto. CLOSE nele: é Martinez.

 

CENA 43. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE LAWRENCE. INTERIOR. NOITE.

 

(Música da cena anterior continua).

 

Lawrence de bruços na cama, dormindo, com o lençol cobrindo seu corpo nu. Letitia está contra a janela, nua, olhando a luz da lua. Ela se vira para o marido e deixa uma lágrima escorrer do rosto. Com calma, Letitia pega uma tesoura que estava em cima de uma mesinha do quarto, segura com as duas mãos e vai pé por pé até a cama. Letitia olha para Lawrence dormindo, ergue a tesoura e aponta na direção das costas dele. CLOSE ne expressão de fúria de Letitia.

 

LETITIA – Morre desgraçado!

 

E Letitia enfia a tesoura com toda a força nas costas de Lawrence. FADE OUT no som da lâmina perfurando o corpo do vilão.

 

 

- FIM DO EPISÓDIO –

 

 

ESTRELANDO

 

PETER KRAUSE como Lawrence Addams

CONNIE BRITTON como Letitia Addams

EVAN PETERS como Ben Addams

ALEXANDRA BRECKENRIDGE como Jessica Addams

GLENN FITZGERALD como Cotton Addams

PIPER PERABO como Mabel Hargensen

RYAN MERRIMAN como Blake Morgan

COURTENEY COX como Violet Langdon

JESSICA LANGE como Dianne Addams

 

ATORES CONVIDADOS

 

MAX THIEROT como Sean Banks

BREE WILLIAMSON como Kendra Parker

CHAD LOWE como Wayne Florrick

MELISSA MCBRIDE como Sarah Florrick

DAKOTA GOYO como Ryan Florrick

ADAM RODRIGUEZ como Martinez

 

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

 

TONY PLANA como François

DANA DAVIS como Chantal

LAZ ALONSO como Larry

TEDDY SEARS como Jermaine

 

MÚSICAS DO EPISÓDIO

 

FINAL WARNING by Skylar Grey

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