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CENA 1. IGREJA. INT. DIA.

 

FADE IN na imagem de Jesus Cristo pregada na parede da igreja. Uma mulher entra pela porta principal e a câmera acompanha seus passos até o altar, na frente da estátua. A mulher se ajoelha, faz o sinal da cruz e encosta os dedos em seus lábios, cobertos pelo véu negro em sua cabeça, que nos impede de ver seu rosto.

 

A tela escurece e surge a seguinte legenda: ANO DE 1969. Cena volta ao normal.

 

A mulher se dirige então ao confessionário, logo ao lado. Entra, se ajoelha na frente de uma divisória com cortina e cruza as duas mãos. Do outro lado, o Padre Cotton, um belo homem de 40 anos, observa a chegada pela mulher pela sombra na divisória.

 

MULHER – (COM A VOZ CHOROSA) Me perdoe Padre. Eu pequei.

 

COTTON – (PACÍFICO) Oh, minha filha, conte-me de seu pecado. Eu estou aqui para lhe ouvir.

 

MULHER – (COMEÇA A CHORAR) Eu estou desesperada, Padre. Eu... eu tenho medo. O que eu fiz é infame, é inaceitável.

 

COTTON – Não seja tão rude consigo mesma, me fale, nenhum pecado é tão grande assim que Deus não possa perdoar.

 

MULHER – Eu sou uma amante. Esse é meu pecado. Eu amo alguém que não pode ser amado.

 

COTTON – Amar não é pecado, minha filha. Deus criou o amor para tornar as pessoas felizes, e não para causar sofrimento. Você não deve se penalizar por causa disso.

 

MULHER – O problema é que eu amo alguém impossível. Eu sou uma pecadora sim, mas por amar um homem santo.

 

Close na reação surpresa de Cotton.

 

 

 

Lentamente, a mulher de véu escuro vai tirando a vestimenta que está presa em seus cabelos. A câmera revela seu rosto em etapas: primeiro, os lábios carnudos pintados de batom vermelho, depois, a pele sedosa, em seguida os olhos castanhos, bem maquiados.

 

COTTON – (NERVOSO) Eu não entendo...

 

MULHER – Sou eu, Padre...  Você não veio até mim, mas eu vim até você.

 

A mulher afasta a fina cortina presa entre a divisória e se revela para Cotton. Cotton salta para trás.

 

COTTON – (SURPRESO) Mabel?!

 

MABEL – (SORRI) Não faça essa cara de surpreso, vou achar que você odiou a minha visita. Eu espero por esse momento a tanto tempo!

 

Mabel passa pela divisória e se senta no colo de Cotton, sedutora. Cotton tenta afastá-la, mas Mabel aproxima sua boca da boca dele.

 

COTTON – (EXALTADO) Sai de perto de mim! Sai! Voce não pode fazer isso! Você é o demônio! Você já acabou com minha vida uma vez, não acabará novamente!

 

MABEL – (SEDUZ) Diz, me diz que você sentiu minha falta, diz!

 

COTTON – (VIRA O ROSTO) Não!

 

Mabel pega a mão de Cotton e a arrasta para debaixo de seu vestido. Cotton arregala os olhos.

 

MABEL – (SAFADA) Eu estou pronta para receber seu espírito santo, Padre!

 

Mabel passa a mão no pênis de Cotton por cima da calça dele e a câmera realça as expressão de prazer e medo do Padre.

 

MABEL – E pelo que eu posso sentir você está bem animadinho...

 

COTTON – (NERVOSO) Para... Sai de cima de mim...

 

MABEL – Não me venha com essa Cotton! Admita que você sente saudades, admita! Da última vez que fizemos você adorou. Não quer experimentar mais uma vez? Nem antes de morrer?

 

A câmera não mostra, mas subentende-se que Mabel retirou o membro de Cotton para fora e o penetrou em sua vagina. Cotton revira os olhos, sentindo prazer.

 

MABEL – Gostou, não gostou? (FAZ MOVIMENTOS) Fala, Cotton!

 

COTTON – (GEME) Eu... não posso! Eu entreguei meu corpo à Igreja!

 

MABEL – Tarde demais, Padre. (SE MOVIMENTA EM CIMA DELE, GEME) Eu preciso sentir a sua unção!

 

COTTON – (GEME) Oh, meu Deus... Não... Você precisa... Parar!

 

MABEL – (PARA) Tem certeza?

 

COTTON – (ALTO) Não!

 

CORTA PARA o exterior do confessionário. A câmera se afasta lentamente e vemos as sombras de Cotton e Mabel sob a luz que entra pela janela do local. CORTA PARA a imagem de Jesus Cristo mostrada no início da cena. Enquanto a câmera vai se aproximando, ouve-se em off os gemidos de prazer de Cotton. FADE OUT.

No mesmo motel da cena 10, Ben cai sentado em uma poltrona segurando um extenso machado na mão. Completamente sujo de sangue, Ben mantém uma expressão de frieza, e a câmera se afasta para mostrar o corpo de Kenny na frente do assassino, cortado pela metade. FADE OUT.

 

CENA 14. CENTRO DE ARTE MODERNA. INT. DIA.

 

 

 

Câmera abre num vinil rodando. Plano geral do centro de arte da cidade, lotado de gente interessada em ver as pinturas feitas por Violet. Violet, acompanhada de uma mulher mais jovem, morena de olhos claros, cumprimenta e conversa com os convidados. Um jornalista se aproxima de Violet com um microfone.

 

JORNALISTA – Violet Langdon, você pode dar uma palavrinha pro nosso programa?

 

VIOLET – Sem problemas! Vamos lá, meu caro.

 

JORNALISTA – De onde veio a inspiração para essa exposição chamada “Warrior”?

 

VIOLET – Amado, eu passei por muitos lugares nos últimos dois anos. Eu e Alicia, (DÁ AS MÃOS A JOVEM MORENA AO SEU LADO), conhecemos culturas que me fizeram crescer como individuo. Conheci, mais precisamente no Rio de Janeiro, em Brasil, uma mulher guerreira de verdade, moradora de rua, que lutava para criar seus 4 filhos catando latinhas amassadas. Eu me envolvi tanto naquele drama e inspirada nesse exemplo de guerra que surgiu “Warrior”. São diversas telas de pinturas de mulheres vitoriosas no decorrer dos tempos.

 

Enquanto Violet fala, a câmera mostra várias obras da artista plástica, e numa delas, o semblante sofrido da mulher brasileira, com seus 4 filhos, em meio ao lixo total. Volta para Violet e o jornalista.

 

JORNALISTA – E como que é ser uma das poucas lésbicas assumidas no nosso país? Você ainda sofre muito preconceito?

 

VIOLET – (PASMA) Como ousa?

 

Violet encara a pergunta do jovem como um desaforo e arranca o microfone da mão dele, jogando-o longe. Alicia a controla.

 

ALICIA – Calma, meu amor, não faça nada que vá se arrepender.

 

VIOLET – (IRRITADA, PARA O JORNALISTA) Dê o fora da minha vernissage, seu miserável! Você não veio aqui para saber da minha arte, mas sim das minhas polêmicas.

 

JORNALISTA – (ASSUSTADO) Mas eu sou um jornalista!

 

VIOLET – Maldita raça de jornalistas! Vocês acham o que, que ganhar dinheiro bisbilhotando a vida alheia é algo digno? Vai trabalhar de verdade, menino, pra saber o que é a vida, como eu sei! (SE EMOCIONA) Eu sei como é a vida. Eu sei o que eu sofri! E isso ninguém nunca vai apagar.

 

Nestante, todo o pessoal que está acompanhando a exposição vira sua atenção no escândalo de Violet.

 

VIOLET – (SE CONTROLA) Já chega. Você conseguiu estragar o meu dia. (PARA TODOS) Me desculpem!

 

Violet se afasta, acompanhada de Alicia, e as pessoas se dispersam rapidamente.

 

ALICIA – Violet, onde você estava com a cabeça para explodir daquele jeito com o rapaz? Ele não tem culpa! Provavelmente foi incitado a fazer a pergunta!

 

VIOLET – Eu estou cansada, Alicia, cansada de tanta polêmica em volta de mim. As pessoas não se interessem pelo que eu sou, mas sim pelo que eu digo, faço ou visto. Será que valeu a pena eu ter enfrentado o que enfrentei pelo nosso amor?

 

ALICIA – Você acha que não valeu?

 

VIOLET – É/...

 

JESSICA – (EM OFF) Violet!

 

As duas se viram e vêem Jessica acompanhada de Letitia. Jessica abre os braços e abraça Violet, a surpreendendo.

 

VIOLET – (SURPRESA) Eu não acredito! Jessica?

 

JESSICA – Querida, que obras maravilhosas! Tem certeza que foram pintadas por você?

 

VIOLET – Obrigada, Jessica. Sua presença aqui é formidável.

 

JESSICA – (CONVENCIDA) Eu sei que é. (PAUSA) Deixa eu te apresentar, essa daqui é Letitia, minha madrasta. Letitia, esta é Violet que eu lhe falei, dona da vernissage.

 

LETITIA – (SORRI) Prazer. As obras estão um deslumbre

 

VIOLET – (SORRI) Prazer é meu. Lhe agradeço a gentileza.

 

ALICIA – (SE METE) E eu sou Alicia Perry. (OLHA PARA VIOLET, OLHA PARA LETITIA) Namorada da Violet.

 

Letitia age com estranheza a “informação” e aperta a mão de Alicia. Alicia troca um olhar provocativo com Letitia.

 

CENA 15. BAR. INT. DIA.

 

Mesmo local da cena 8, porém vazio. Os empregados limpam as mesas sujas da noite anterior. Cotton entra no bar, rigorosamente vestindo seu traje clérigo, com um terço entre os dedos de uma das mãos. Ele se aproxima de um garçom.

 

COTTON – Com licença, rapaz.

 

GARÇOM – Sim?

 

COTTON – Fiquei sabendo que Mabel vive por aqui. Pode me indicar onde é, por favor? Preciso falar com ela.

 

O garçom estranha e olha Cotton de cima abaixo.

 

COTTON – Algum problema?

 

GARÇOM – Desculpe, mas é que não costumam entrar Padres aqui. Você sabe! (SEM GRAÇA)

 

COTTON – Sem lorotas rapaz, onde é o quarto?

 

GARÇOM – É naquela porta no fim do bar.

 

Cotton agradece e se dirige até a porta indicada pelo rapaz, receoso. Quando vai bater na porta, sai de lá um homem colocando a camisa, todo rasgado, e assusta Cotton. Cotton o vê sair e entra no local.

 

CENA 16. BAR. QUARTO DE MABEL. INT. DIA.

 

Mabel de costas para a porta, de calcinhas, vestindo seu sutiã. Cotton entra e vira o rosto, chocado em vê-la naquele estado.

 

COTTON – (COM MEDO) Céus.

 

MABEL – (SE VIRA) Mas veja só quem resolveu aparecer. (SE APROXIMA DELE) Padre Cotton Addams! Pelo visto não conseguiu esquecer o que aconteceu ontem.

 

COTTON – (A AFASTA) Deixe de gracinhas, Mabel. O que me traz aqui é sério.

 

MABEL – (FECHA A PORTA) Fale!

 

COTTON – (PEGA UM ROUPÃO) Se vista.

 

MABEL – Pra que? Tem pudor de mim agora? Esqueceu que você já me viu nua em todos os ângulos?

 

COTTON – (ALTO) Para com isso imediatamente!

 

MABEL – (PEGA O ROUPÃO) Ok, tudo bem, eu coloco. (SE VESTE) Assim está bom pra você?

 

COTTON – (CONCORDA) Agora sim. Podemos conversar?

 

MABEL – Quer sentar?

 

COTTON – Não, o que eu tenho para falar não demorará um minuto, posso ficar em pé.

 

MABEL – Pode falar Padre. Ou prefere que eu ouça de joelhos, pregando uma Ave Maria?

 

COTTON – Não tente insultar a imagem de Maria dessa forma! Você não tem moral e nem pudor para isso.

 

MABEL – E você, hein Padre Cotton? Por acaso tem?

 

COTTON – Vamos logo ao que interessa...

 

Cotton enfia a mão no bolso e tira um maço grosso de dinheiro. Ele joga o maço na cara de Mabel e as notas se espalham pelo quarto.

 

MABEL – (NÃO ENTENDE) O que é isso?

 

COTTON – Isso é o que eu pretendo te pagar para você sumir do mapa e esquecer tudo que aconteceu entre nós.

 

MABEL – Está brincando comigo? Você acha que irá me afastar com um maço de dinheiro? (SE APROXIMA) Eu te amo, Cotton! Eu quero ficar com você!

 

COTTON – (NERVOSO) Mas eu não posso ficar com você! Eu não te amo! Eu sou um Padre, dediquei minha vida à Igreja!

 

MABEL – (SUSSURRA NO OUVIDO DELE) Ontem, dentro daquele confessionário, enquanto você gemia de prazer na minha vagina, eu ouvi você sussurrar que me amava! Lembra?

 

COTTON – (ENVERGONHADO) Não era eu! Não era! Eu estava enfeitiçado pelo demônio! Por você!

 

Mabel agarra Cotton e tenta beijá-lo, mas Cotton tenta se afastar e não consegue.

 

MABEL – Me beija Cotton! Anda, me beija! Eu sei que você quer fazer isso! Que você quer fazer de novo!

 

COTTON – Não!

 

Cotton empurra Mabel, que se segura na manga de sua batina a rasga por completo. Cotton esconde o braço com rapidez, mas Mabel, chocada, viu as marcas de cortes na pele dele.

 

MABEL – (EM CHOQUE) O que você fez, Cotton?

 

Close em Cotton. FADE OUT / FADE IN.

 

Quarto de Cotton. Na beirada da janela, Cotton está inteiramente nu, ajoelhado num altar, na frente da imagem de Cristo na parede.

 

COTTON – (CHORANDO) Me perdoe, meu Senhor, eu não queria! Mas o Diabo foi mais forte! Foi traiçoeiro! Eu mereço o seu castigo divino sobre a minha pele encharcada de luxúria!

 

Cotton ergue uma chibata e começa a acertar suas próprias costas e braços com força. Enquanto se auto-mutila, ele geme de dor, mas não grita para chamar a atenção. FADE OUT / FADE IN.

 

Volta a cena normal. Cotton deixa algumas lágrimas escorrerem e baixa a cabeça.

 

MABEL – Você não pode fazer isso com você mesmo, Cotton!

 

COTTON – Eu pequei, Mabel. Tudo por sua culpa. Maldito seja o dia em que eu cruzei na sua frente e você me enfeitiçou com esses seus olhos brilhantes, essa sua boca carnuda... (DÁ UM TAPA NO PRÓPRIO ROSTO) Já chega, Cotton!

 

MABEL – Eu te amo!

 

COTTON – (SE EMOCIONA) Não posso...

 

MABEL – Nós vamos precisar fazer alguma coisa, por que do nosso amor... Aconteceu algo mágico, Padre. (RESPIRA FUNDO) Eu estou grávida Cotton.

 

COTTON – (EM CHOQUE) Que?

 

MABEL – E eu acho que o filho só pode ser seu.

 

Cotton olha abismado para Mabel. Closes descontínuos entre os dois.

CENA 2. CLÍNICA DO DR. LAWRENCE ADDAMS. SALA DE CIRURGIA. INT. NOITE.

 

P.V. de uma pessoa acordando, lentamente, com a visão distorcida. Olha para os lados mas não consegue enxergar muita coisa, está tudo embaçado, mas é claramente um ambiente frio, de cores apáticas. Uma forte luz vinda de um tripé incomoda a visão. O rosto de um homem surge na tela, de aparentemente 43 anos, usando um chapéu e uma máscara na boca.

 

MULHER – (FRACA) Quem é você? Onde eu estou?

 

LAWRENCE – Muito prazer, senhorita. Eu sou o dr. Lawrence Addams e estou aqui para cuidar de você.

 

MULHER – O que aconteceu comigo?

 

LAWRENCE – Você sofreu um acidente e agora está sob os meus cuidados.

 

MULHER – A minha família...

 

LAWRENCE – Eles não sabem que você está aqui. (SORRI) Eles pensam que você está morta. (PAUSA) Mas não se desespere, será um procedimento nada dolorido. Eu prometo.

 

E a mulher não tem forças para responder. Desmaia. Revela-se em fim a sala de cirurgia do dr. Lawrence, bem equipada com aparelhos de última geração (da época). Ele examina o corpo da jovem a sua frente e se vira para a enfermeira, atrás dele.

 

LAWRENCE – Bisturi, por favor.

 

A enfermeira alcança e Lawrence segue algumas linhas feitas com caneta na região do abdome da jovem. Com precisão, ele começa a cortar a pele dela. Câmera dá um close na face tranqüila do médico, que ergue o bisturi e deixa o sangue pingar na lâmina.

 

LAWRENCE – (TIRA A MÁSCARA, OLHA PARA O CORPO) Boas notícias... Temos um ótimo fígado por aqui.

 

Close em Lawrence.

 

CENA 3. CLÍNICA DO DR. LAWRENCE ADDAMS. CORREDOR. INT. NOITE.

 

 

 

A enfermeira da cena anterior percorre um curto corredor levando uma maleta, envolta em papel filme. Ela chega ao fim do corredor e entrega a maleta a um homem mal encarado, segurando uma arma. Os dois se olham, com tom de cumplicidade, e o homem sai pela porta dos fundos.

 

CENA 4. CLÍNICA DO DR. LAWRENCE ADDAMS. SALA DE LAWRENCE. INT. NOITE.

 

Lawrence sentado em sua enorme poltrona, bebendo um copo de uísque. A enfermeira entra na sala e se dirige até a frente da mesa dele.

 

ENFERMEIRA – “Aquilo” já está a caminho, doutor. Ainda precisará de mim?

 

LAWRENCE – Não, Danielle. Já pode ir para a casa. Foi um longo dia hoje, não? A chefia vai adorar.

 

DANIELLE – Obrigada, doutor, mas o que faremos com o corpo?

 

LAWRENCE – Oh, claro, havia me esquecido desse mero detalhe. (PENSA) O que faremos com essa pobre coitada, agora que a família acha que ela morreu e que está com suas cinzas... (ALTO) Bom, mande Martinez dar para os cachorros do mato. Eles devem estar famintos!

 

DANIELLE – (CONFIRMA) Ok, licença.

 

A enfermeira Danielle sai. Lawrence gira sua cadeira e olha para fora da janela, com um sorriso entre os dentes.

 

CENA 5. MANSÃO DA FAMÍLIA ADDAMS. FRENTE. EXT. NOITE.

 

 

 

O carro de Lawrence estaciona na frente da entrada da mansão. Seguranças abrem o portão e o carro adentra na área da residência, que é gigantesca, construída de forma antiga, de pedras, com uma leve pintura bege. A construção se assemelha a os antigos castelos medievais, com seus arcos na frente e janelas em forma arredondada, com direito a grande sacadas. Um grande jardim cerca toda a mansão. Lawrence estaciona o automóvel em frente à escadaria, salta e dá as chaves a outro segurança. O médico sobe a escadaria e entra na residência.

 

CENA 6. MANSÃO DA FAMÍLIA ADDAMS. QUARTO. INT. NOITE.

 

Letitia, 40 anos, ruiva, mulher de beleza admirável, está sentada em frente a uma penteadeira, penteando os cabelos delicadamente. Ela veste uma camisola de seda azul clara e alguns anéis nos dedos. Lawrence entra no quarto e fecha a porta.

 

LAWRENCE – Boa noite, querida.

 

Ele se aproxima da esposa e a beija na bochecha. Letitia não corresponde ao carinho, fria.

 

LETITIA – Boa noite, meu amor.

 

LAWRENCE – (SE SENTA NA CAMA, TIRA OS SAPATOS) Como foi o seu dia?

 

LETITIA – (SE VIRA) Diga você. Como foi o seu dia?

 

LAWRENCE – Um tanto movimentado. Uma pobre menina sofreu um acidente de carro hoje e acabou falecendo na mesa de cirurgia. (BALANÇA A CABEÇA) Triste, triste.

 

LETITIA – E você não se lembrou de nada? Absolutamente nada?

 

LAWRENCE – Não. Tinha alguma coisa pra lembrar?

 

LETITIA – Lawrence hoje fez exatamente 25 anos da morte da Amy. Como você pode esquecer?

 

LAWRENCE – (SE APROXIMA DELA) Era hoje? Mil perdões Letitia, eu ando com a cabeça tão cheia de trabalho, não me perdôo por ter esquecido. Como você está se sentindo?

 

LETITIA – Triste, não é? Ela era nossa filha. Parece que ano após ano a dor da perda da Amy fica pior, mais intensa. Você pode se esquecer, mas eu não consigo tirar o rostinho dela da cabeça.

 

E a câmera se aproxima do rosto de Letitia. FADE OUT / FADE IN.

 

Letitia, mais jovem, deitada em uma cama de madeira, grávida de 9 meses, gemendo de dor. Ao seu lado, Lawrence, também mais novo, segurando na mão da esposa, tentando acalmá-la. O local é um pequeno casebre sem luz elétrica, onde, lá fora, cai uma terrível tempestade.

 

LAWRENCE – Força Letitia! Eu estou vendo a cabecinha dela! Força!

 

LETITIA – (GRITA DE DOR) Eu não vou agüentar Lawrence! Me ajuda!

 

Letitia faz força e grita, com muita dor. Lawrence pressiona a barriga dela, desesperado. FADE OUT/ FADE IN.

 

Tempo atual. Letitia e Lawrence no quarto. Letitia respira fundo e larga a escova de cabelos em cima do móvel. Se levanta.

 

LAWRENCE – Meu amor me desculpa, eu sei que isso ainda significa muito pra você, mas eu não fiz por mal. Você sabe, não sabe?

 

LETITIA – (IGNORA) Está tudo bem Lawrence. Eu estou cansada, você está cansado, precisamos dormir. É melhor você se recolher.

 

LAWRENCE – (CONCORDA) Certo.

 

Lawrence se dirige até a porta, enquanto Letitia se deita na grande cama no centro do quarto. Antes de sair, Lawrence volta e olha para Letitia.

 

LAWRENCE – Eu te amo.

 

Letitia encosta a cabeça no travesseiro e não o responde. Lawrence sorri, sem graça, e sai.

 

CENA 7. MANSÃO DA FAMÍLIA ADDAMS. QUARTO #2. INT. NOITE.

 

Lawrence entra em outro quarto da mansão, esse mais modesto, e se senta em sua cama. Ele põe as duas mãos sob a cabeça e se deita em seguida, cansado. Ele olha para o lado e vê uma foto dele e de Letitia, abraçados e felizes, num porta retrato. Close em Lawrence. De cima, a câmera mostra o médico deitado de bruços, sozinho.

 

CENA 8. BAR. INT. NOITE.

 

 

 

Mabel sobe no palco, vestida sensualmente, e se dirige ao microfone. Diversos homens, reunidos em pequenas mesas, bebem cerveja e conversam. Mabel inicia a letra da música e esfrega as mãos no vestido de veludo, incitando-se para os presentes. Ela ergue a perna e um dos homens coloca uma nota de 50 dólares em sua cinta-liga. No balcão, o jovem Ben, de 26 anos, bebe uma caneca de cerveja e fuma um cigarro. Ele aparenta estar bastante nervoso, e dá mais uma tragada. Ben tira uma nota de cem dólares, coloca ao lado do caneco e sai do bar.

 

CENA 9. MOVIMENTADA RUA DE NOVA IORQUE. EXT. NOITE.

 

Carros percorrem de lá pra cá. Homens engravatados caminham pela calçada em grande movimento. Vários bares abertos. Um corvette (popular carro na década de 60) segue pela avenida. Pela janela do motorista podemos ver Ben com um dos braços para fora, segurando um cigarro. Ele dá a última tragada e joga o cigarro no chão. Vindo do outro lado da rua, um homem alto, bonito, caminha e chama a atenção de Ben. Ben estaciona o carro perto dele e o chama com sinal de luz. O homem se aproxima e Ben baixa o vidro.

 

HOMEM – Olá, boa noite?

 

BEN – Boa noite, meu rapaz, será que você pode me indicar onde há uma casa de pouso por aqui perto? Sabe como que é, cheguei hoje em Nova Iorque e estou meio perdido.

 

HOMEM – (APONTA) Vire à direita e siga reto até o fim da rua que você encontra.

 

BEN – Que mal lhe pergunte, mas o que um rapaz tão jovem e bonito faz andando por essas ruas perigosas a essa hora?

 

HOMEM – (SORRI) Nada. Apenas andando.

 

BEN – Como se chama? Meu nome é Eddie, a propósito.

 

KENNY – Kenny. Kenny Allen.

 

Ben tira uma nota de cem dólares da carteira e a coloca no bolso de Kenny, esfregando sua mão na região peniana dele.

 

BEN – O que você acha que dar uma volta comigo? Eu prometo que não vai se arrepender!

 

Ben o encara esperando uma resposta e Kenny sorri.

 

CENA 10. MOTEL. QUARTO SUÍTE. INT. NOITE.

 

Ben abre a porta e já entra no local beijando Kenny. Ben o pressiona contra a parede e fecha a porta com o pé.

 

KENNY – (COM TESÃO) Calma cara! Vamos devagar, assim você acaba comigo!

 

BEN – Pra que perder tempo? (MORDE OS LÁBIOS DELE) Eu tô morrendo de tesão...

 

Ben vai tirando a roupa e Kenny faz o mesmo. Ben lambe os mamilos do rapaz, que delira de prazer.

 

KENNY – (GEME) Hum... Que delícia!

 

BEN – (SAFADO) Você não viu nada!

 

Ben empurra o rapaz com força contra a cama e baixa as calças, ficando de cueca. Ele alisa com força seu pênis e mostra que está excitado para Kenny.

 

KENNY – Eu falei pra gente ir com calma, cara! Pra que essa pressa? (SORRI) A gente ainda nem começou a se divertir.

 

Ben não escuta e o segura com força contra a cama, deixando-o de quatro.

 

BEN – Pra que esperar, hum? (PASSA A MÃO NA BUNDA DELE) Eu vou destroçar com essa sua bundinha, sua puta!

 

KENNY – (SE VIRA) Puta? Me respeita, cara! Eu não admito ser tratado dessa forma, meu nome é Kenny! E é por ele que eu quero ser tratado!

 

BEN – (DÁ RISADA) Eu realmente ouvi isso? Quem é você para pedir respeito, meu irmão? Você acha que eu não te conheço? Que eu não sei que é garoto de programa? Seu sujo! Imundo! Fica dando suas voltas na rua 20 e ainda exige respeito? Essa é boa!

 

KENNY – (POR CIMA) Você/...

 

BEN – (SÉRIO) Pois eu paguei e agora eu quero usar o meu produto da maneira que eu bem entender. Cala a boca e empina esse rabo! Eu vou enterrar tudinho dentro desse seu buraco nojento!

 

HOMEM – Eu não quero! (IMPLORA) Eu devolvo seu dinheiro, mas deixa ir pra casa! Eu tenho uma família  me esperando!

 

BEN – Infelizmente não é uma opção disponível! Agora se curve, viado de merda!

 

Kenny é dominado por Ben, que baixa as calças dele e baixa suas cuecas para penetrá-lo. Kenny se vira e, ao ver o pênis de Ben, tem um ataque de riso e se afasta do playboy.

 

BEN – (NERVOSO) Não ouse rir de mim!

 

KENNY – Meu Deus, o que houve com você? (RI) Você teve algum acidente?

 

BEN – (FURIOSO) Cala a boca! Agora! Retire o que disse!

 

KENNY – Um homem de porte tão viril desse jeito, achei que seria enorme como um/...

 

Ben agarra uma cadeira e acerta Kenny na cabeça. Kenny sofre o impacto e cai, desacordado. Close em Ben, olhando o corpo em fúria.

 

CENA 11. NOVA IORQUE. CENAS PANORÂMICAS. EXT. DIA.

 

 

 

Takes mostrando a cidade de Nova Iorque na década de 60. Seus prédios grandes e modernos para a época, os carros populares fazendo barulho pelas ruas movimentadas, homens de terno e mulheres com seus guarda-chuvas pelas calçadas e etc.

 

CENA 12. MANSÃO DA FAMÍLIA ADDAMS. FRENTE. EXT. DIA.

 

Plano geral da fachada da mansão.

 

CENA 13. MANSÃO DA FAMÍLIA ADDAMS. SALA DE JANTAR. INT. DIA.

 

Grande sala de jantar da mansão. Uma mesa larga, com diversos quitutes deliciosos que compõem o café da família. Na ponta da mesa Lawrence, já vestido para o trabalho. Sentados em volta Letitia, uma bela e maquiada senhora chamada Dianne, Ben, a estonteante Jessica e seu marido, Blake, e o padre Cotton. O mordomo François está de pé, ao lado da mesa.

 

LETITIA – Não se esqueçam que um fotógrafo que eu contratei virá até a mansão mais tarde tirar nossa foto anual de família.

 

DIANNE – (ANIMADA) Fabuloso! (PARA O MORDOMO) François, separe aquele meu vestido azul divino que usei na festa de 15 anos do Cotton. Quero estar estonteante!

 

COTTON – (ABATIDO) Menos mamãe, é apenas uma foto, não um evento da alta sociedade.

 

DIANNE – (ESTRANHA) Meu filho querido, amado, você passou bem essa noite? Posso jurar com meus dois ouvidos que ouvi ruídos vindos de seu quarto.

 

COTTON – Tive um acesso de tosse, mamãe, nada de grave.

 

LETITIA – (PARA BEN) Você virá, não virá filho? Sua presença é importante.

 

BEN – (SORRI) Sem dúvidas, mamãe.

 

Ben arruma a gola de sua camisa pólo e passa a mão pelo cabelo encharcado de gel.

 

DIANNE – (PEGA NA MÃO DE LETITIA) Não pense que eu não lembrei, ouviu Letitia? Foi a primeira coisa que fiz quando acordei. Levantei e fui olhar as fotinhos dela.

 

JESSICA – (SURPRESA) É hoje?

 

LAWRENCE – Pessoal, eu acho melhor esse assunto não ser comentado na mesa do café. Todo mundo sabe o quanto a Letitia ainda sofre com a perda da Amy.

 

DIANNE – Como que esse assunto não será comentado, Lawrence? É claro que será comentado!

 

BLAKE – Meus pêsames, Letitia.

 

LETITIA – (FORÇA UM SORRISO) Muito obrigado. Parece até engraçado tirarmos uma foto em família justamente na data de comemoração dos 25 anos de falecimento da Amy.

 

BEN – Eu me lembro da Amy. Podia ser pequeno quando ela morreu, mas lembro de ter visto o rosto dela uma única vez. Era linda, a cara da mamãe.

 

LETITIA – (SORRI) Ela era linda.

 

LAWRENCE – (PIGARRA) Bom, vamos mudar de assunto?

 

JESSICA – Tive uma ideia, Letitia! Pra tirar você desse estado de baixo astral, que tal ir comigo até a abertura da vernissage de uma grande amiga minha britânica, Violet Langdon?

 

Dianne solta uma gargalhada e todos se viram pra ela.

 

COTTON – Qual a graça, mamãe?

 

DIANNE – (SE CONTÉM) Violet Langdon... (SUSPIRA) Me admiro essa mulher ainda estar viva. Achei que já havia sido apedrejada nas escadas das igrejas de Londres depois daquele protesto horroroso das lésbicas que ela participou ao lado da namorada, uma sujeitinha deplorável.

 

JESSICA – Não seja preconceituosa vovó, Violet não é homossexual, ela é apenas uma mulher a frente de seu tempo.

 

DIANNE – E muito a frente!

 

LAWRENCE – Mamãe tem razão, não permitirei que Letitia freqüente um local onde pise uma invertida.

 

LETITIA – E desde quando você manda em mim, Lawrence? (PARA JESSICA) Está combinado, eu vou com você ao vernissage.

 

JESSICA – (BATE PALMAS) Manifique!

 

Letitia troca um olhar fulminante com Lawrence. Cotton abre o jornal e leva um susto ao ler uma matéria.

 

COTTON – Santo Deus. (FAZ O SINAL DA CRUZ) Parece que o assassino em série que anda matando jovens da cidade atacou novamente.

 

BLAKE – (OLHA) Quem foi a vítima dessa vez?

 

COTTON – A vítima foi identificada como... (LÊ) Kenny Brian Allen.

 

LAWRENCE – Isso é um absurdo! Onde está a polícia da cidade quando esse assassino perigoso está violando a vida dos nossos jovens?

 

Ben fica nervoso e passa a respirar ofegante. Ele esfrega as mãos uma a outra e... FADE OUT / FADE IN:

 

1.01 - PILOTO

INTERVALO COMERCIAL

INTERVALO COMERCIAL

CENA 17. CENTRO DE ARTE MODERNA. INT. DIA.

 

Letitia olhando a pintura da mulher brasileira e seus 4 filhos. Letitia olha profundamente a imagem quando Jessica chega a seu lado.

 

JESSICA – Letitia, eu tenho que ir embora, você se importa de pegar um táxi até a mansão? Vou ver o Blake no escritório.

 

LETITIA – Não tem problemas, eu também estarei indo em um minuto.

 

JESSICA – Ótimo, a gente se vê mais tarde pra tirar a foto da família.

 

LETITIA – Esteja linda, não me decepcione! Quero que meus netos se orgulhem da mãe que vão ter quando verem a foto daqui a 10 anos.

 

JESSICA – Pode deixar!

 

Letitia beija Jessica, que vai embora. Letitia caminha para ver as outras obras de Violet.

 

CENA 18. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE BEN. INT. DIA.

 

Ben entra no quarto, nervoso, e tranca a porta. Ela anda de um lado pro outro, assustado, sem saber o que fazer.

 

BEN – (IRRITADO) Eles descobriram... Como eles conseguiram? Eu escondi tão bem... Eles estão muito perto. Droga! Isso não podia ter acontecido!

 

Ben se olha no espelho e despenteia seus cabelos, com raiva.

 

BEN – (FALA PARA SI MESMO) Lixo que você é! Você tem que parar! Tem que se controlar. Isso é errado! (PAUSA) Mas você não consegue parar. Você não quer parar. Você gosta. Você gosta quando... (SORRI) Gosta quando eles gemem, quando eles pedem pela vida... Mas você precisa ser cuidadoso.

 

Ben ouve um barulho estranho vindo do banheiro do quarto e leva um susto.

 

BEN – (ALTO) Tem alguém aí? François?

 

Devagar, ele se aproxima da porta do local e entra.

 

CENA 19. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE BEN. BANHEIRO. INT. DIA.

 

Ben entra no banheiro e vê Kenny nu, de costas, empinando a bunda, apoiado no vaso sanitário. Kenny olha para Ben e esfrega uma das mãos em seu corpo.

 

BEN – (SURPRESO) O que você faz aqui?

 

KENNY – Eu vim por você!

 

BEN – Você não pertence a esse lugar. Isso está errado!

 

KENNY – (CHAMA) Vem Ben, vem, enterra dentro de mim vai... Eu quero... Eu preciso sentir você!

 

BEN – (NERVOSO) É mentira! Você não é de verdade! Você é irreal! Eu te matei! Eu acabei com cada parte sua com as minhas próprias mãos!

 

KENNY – (CANTAROLA) Ben...

 

BEN – (GRITA) Cale-se!

 

Ben joga uma saboneteira contra Kenny, mas quando volta a si vê que não há ninguém naquele banheiro além dele. Ben vê a saboneteira no chão, quebrada, e se desespera.

 

CENA 20. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE BEN. INT. DIA.

 

Nu, de costas, Ben está em pé na frente do criado mudo ao lado da cama, se masturbando. A câmera mostra sua mão se movimentando e Ben gemendo de muito prazer. Close no rosto de desejo dele, que passa as mãos pelo próprio corpo. Ben intensifica os movimentos e então ejacula. Ao invés de sentir prazer, Ben começa a chorar feito uma criança. É quando uma buzina de caminhão chama sua atenção. Ben olha pela cortina da janela e vê que, na casa ao lado, móveis estão sendo descarregados por alguns trabalhadores. Close em Ben.

 

CENA 21. CENTRO DE ARTE MODERNA. INT. DIA.

 

Letitia vai saindo pela porta principal para ir embora da vernissage quando uma mão feminina a puxa pelo braço. Letitia se vira e vê Alicia.

 

ALICIA – Letitia! Espera!

 

LETITIA – Ah, olá. Você deve ser a Alicia não?

 

ALICIA – Sim, a Violet teve que sair por culpa de alguns problemas pessoais, mas me mandou agradecer imensamente a sua presença. Obrigada mesmo!

 

LETITIA – De nada! Diga você a ela que a exposição está fantástica. Muito sucesso a ela!

 

ALICIA – Você é esposa de Lawrence Addams, sim?

 

LETITIA – Exatamente.

 

ALICIA – Sabe, você me parece uma pessoa com uma mente muito aberta Letitia. E deve imaginar o que falam de mim e da Violet por aí...

 

LETITIA – Não se preocupe, Alicia, eu sou uma mulher livre de preconceitos. Uma mulher moderna, do século 20.

 

ALICIA – O que faria se uma filha sua se revelasse lésbica?

 

LETITIA – Posso responder com sinceridade, querida?

 

ALICIA – Claro!

 

LETITIA – Não saberia como lidar. A sociedade hoje infelizmente é muito dura com homossexuais e temeria demais pela vida dela. Porém se fosse um amor verdadeiro como seu com Violet, pode ser que aceitaria. (SORRIDENTE) Agora me perdoe, tenho que ir. Estou cheia de coisas para organizar na mansão.

 

ALICIA – (SORRI) A gente se vê.

 

Alicia concorda e Letitia se vira, colocando um moderno óculos de sol para proteger sua face de desgosto com a presença de Alicia. E vai embora. Alicia a observa sair, misteriosa.

 

CENA 22. PRÉDIO DA MINERADORA MORGAN AND SONS. EXT. DIA.

 

Plano geral da fachada do prédio. Foco na grande placa indicando a empresa “Morgan and Son”.

 

CENA 23. PRÉDIO DA MINERADORA MORGAN AND SONS. SALA. INT. DIA.

 

Jessica sai pelo elevador principal da empresa e adentra no interior da ante-sala da presidência. Ela se depara com a mesa da secretária vazia, olha pros lados, procurando alguém.

 

JESSICA – (CHAMA) Blake? (SORRI) Blake você está aí?

 

Ouve-se, em off, risadas femininas de prazer. Jessica se apavora e escuta que vem na direção da porta da sala onde está gravado o nome de Blake Morgan. Jessica hesita, mas se aproxima lentamente da porta da sala e a encontra entreaberta. Ela coloca o olho pela fresta e vê a secretária seminua, jogada na mesa do marido, e Blake em cima dela, lhe fazendo sexo oral. Jessica põe a mão na boca e dá um chute na porta, com raiva.

 

JESSICA – (GRITA) Mas que putaria é essa aqui?

 

BLAKE – (DÁ UM PULO) Jessica?

 

SECRETÁRIA – (SE COBRE COM AS ROUPAS) Quem é essa mulher?

 

JESSICA – Quem eu sou, vagabunda? (GRITA) Eu sou a mulher do homem que você estava traçando!

 

SECRETÁRIA – (SEM GRAÇA) Eu acho que vou dar o fora...

 

JESSICA – (SE COLOCA NA FRENTE DELA) Nem pensar querida, você acha que vou deixar você sair daqui assim? Antes eu acabo com a sua cara!

 

Jessica avança na moça, mas é apartada por Blake.

 

BLAKE – Jessica, vamos conversar, não aja com precipitação, o que você viu aqui não significou nada!

 

JESSICA – (EXALTADA) O que eu vi foi você chupando essa vagabunda, Blake! Foi isso que eu vi!

 

BLAKE – Meu amor/...

 

JESSICA – (DÁ UM TAPA NELE) Não me chama de “meu amor”. Seu canalha! (SE DESESPERA) Eu confiei em você todos esses anos, eu pus você dentro da minha família, eu te dei todo o amor que nenhuma piranha poderia dar e você me retribuiu desse jeito? Me traindo?

 

BLAKE – Vamos conversar!

 

JESSICA – Não tem o que conversar! Se tem uma coisa que eu não admito é traição! Acabou tudo entre nós, Blake!

 

Muito descontrolada, Jessica cospe na cara do marido, que limpa o rosto com nojo.

 

JESSICA – (CHORANDO) Não fala comigo. Eu te amava Blake! Amava!

 

Jessica o encara e sai correndo do local. Blake a segue, vestindo sua roupa, mas ela já entrou no elevador e foi embora. Close em Blake.

 

CENA 24. PRÉDIO DA MINERADORA MORGAN AND SONS. EXT. DIA.

 

Jessica sai correndo da porta do prédio e entra dentro de seu carro. Chorando muito, ela liga o veículo e sai dali cantando pneus. Blake sai em seguida, mas não consegue alcançar a mulher. Blake dá um soco no vento, irritado, e vê que está sendo observado pelas pessoas. Ele veste a camisa e entra no prédio.

 

CENA 25. NOVA IORQUE. CENAS PANORÂMICAS. EXT. DIA.

 

Sem sonoplastia. Imagens rápidas da cidade de Nova Iorque. CORTA PARA a estátua da liberdade. A câmera se aproxima do rosto da estátua. FADE OUT.

 

CENA 26. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE COTTON. INT. DIA.

 

A janela do quarto aberta. Cotton está sentado no pé de sua cama, fumando um cigarro. Ele joga as cinzas no cinzeiro e coloca as duas mãos sob a cabeça. Batem na porta. Cotton esconde o cinzeiro debaixo da cama e Dianne entra, elegantemente vestida.

 

DIANNE – Você já está pronto, Cotton? O fotógrafo acaba de chegar para tirar a foto. Só faltam você e Jessica.

 

COTTON – (SE LEVANTA) Já vou descer mamãe, obrigado.

 

Dianne sente cheiro de fumaça e vê algumas cinzas caídas no pé da cama.

 

DIANNE – (FECHA A PORTA) Meu filho, eu sou sua mãe, eu te conheço. Me fala o que houve pra te deixar abalado assim. Você está péssimo desde o café.

 

COTTON – Não é nada, mãe!

 

DIANNE – Você é um péssimo mentiroso, meu filho. (RI) Foi por isso que acabou se tornando Padre. Você sempre odiou mentiras. Fala pra mim, fala, se você tiver um problema eu posso te ajudar.

 

COTTON – Você está certa, eu realmente tenho um problema, mas... não posso contar. Não agora.

 

DIANNE – Oh céus, é algo grave?

 

COTTON – Eu cometi um pecado muito grande, mamãe. Um pecado que pode custar toda a minha vida.

 

Dianne olha para a batina de Cotton e vê um cabelo feminino solto em seus ombros. Ela disfarça e volta a olhar pro filho.

 

DIANNE – Tudo bem, eu vou respeitar seu desejo e ficar calado. Mas saiba que você tem em mim uma amiga, e que estará sempre pronta para te apoiar. Peça apoio a Deus, Cotton, ele sempre te ajudou em toda a sua jornada. Por mais abominável que possa ser seu pecado, não é tão ruim assim que Ele não possa perdoar.

 

Dianne beija o filho e o abraça. Cotton sorri, mais aliviado.

 

CENA 32. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE LETITIA. INT. NOITE.

 

Letitia na frente de sua cama, passando maquiagem no rosto, com uma aparência péssima. Lawrence está na porta, também arrumado. Letitia termina, se arruma, dá o braço para o marido e sai do quarto.

 

CENA 33. APARTAMENTO DE VIOLET. QUARTO. INT. NOITE.

 

Câmera aérea mostra Violet e Alicia deitadas na cama da artista plástica, nuas, enroladas por um cobertor fino. Alicia abre os olhos e se levanta, sem que Violet perceba. Violet vê a movimentação da namorada e acorda também.

 

VIOLET – Aonde você vai? Volta pra cama.

 

ALICIA – (VESTE O ROBE) Vou beber água, já venho.

 

Alicia beija a boca de Violet e sai do quarto. Violet vira de lado e volta a dormir.

 

CENA 34. MANSÃO DOS ADDAMS. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

 

 

 

Dianne, Ben, Blake e Cotton esperando na sala, já impacientes. Letitia e Lawrence descem a escadaria, arrumados, ela bela, porém triste. Logo junto deles, Jessica aparece, trocando os passos, e Blake vai até ela.

 

BLAKE – Jessica! Onde esteve? Tem noção de que horas são? Estávamos preocupados a sua espera!

 

Jessica o ignora e se olha no espelho, arrumando o cabelo.

 

DIANNE – (BATE PALMAS) Ótimo, estão todos aqui, vamos nos posicionar para tirar a foto?

 

O fotógrafo arruma a câmera. Jessica, Blake, Ben e Dianne se sentam no sofá. Letitia e Lawrence permanecem em pé, atrás do móvel.

 

FOTÓGRAFO – Preparados?

 

CENA 35. APARTAMENTO DE VIOLET. SALA. INT. NOITE.

 

Sonoplastia da cena anterior continua. Alicia entra na sala com cuidado, sempre olhando para os lados para ver se não há ninguém. Ela abre uma gaveta de uma estante no fundo do local e tira de lá uma pasta preta. Ela se senta no sofá e abre a pasta em cima da mesinha de centro. Alicia retira de lá alguns papéis e uma foto de Lawrence Addams. Alicia pega a foto de Lawrence a observa, com raiva.

 

ALICIA – (BAIXO) Bandido...

 

Alicia retira outra foto da pasta, dessa vez uma dela e de outra moça, parecida com ela, porém mais jovem.

 

ALICIA – Minha irmã... Você nem imagina da falta que você me faz. Até hoje eu não me perdôo pelo que aconteceu com você. (ABRAÇA A FOTO) Mas de uma coisa eu te prometo: que esse miserável do Lawrence Addams vai pagar por ter terminado com a sua vida. Eu te prometo que eu vou fazer aquele castelo de areia da família Addams virar pó. Nem que eu tenha que morrer para isso.

 

Super close em Alicia, com um olhar enigmático e muito forte.

 

CENA 36. MANSÃO DOS ADDAMS. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

 

Sonoplastia continua. A família Addams preparada para tirar a foto. Lawrence se aproxima do ouvido de Letitia.

 

LAWRENCE – (SUSSURRA) Sorria. Não quer sair feia na foto, não é amor da minha vida?

 

Letitia concorda e dá um sorriso falso. Blake pega na mão de Jessica, que se vendo na frente da câmera, não se detém a aceitar. Por um momento, Ben vê na face do fotógrafo o rosto de Kenny, mas esfrega os olhos e volta à realidade. Dianne puxa um pouco do vestido para mostrar as pernas e limpa o batom no canto da boca. Cotton sente a dor de suas feridas, mas enche o peito e olha para a câmera. O fotógrafo faz sinal positivo e tira a foto. A imagem recebe efeito de flash e congela. O retrato se aproxima lentamente na tela para mostrar a, visualmente amorosa e feliz, família Addams reunida. A música se encerra. FADE OUT.

 

 

- FIM DO EPISÓDIO -

 

 

ESTRELANDO

 

PETER KRAUSE como Lawrence Addams

CONNIE BRITTON como Letitia Addams

COURTENEY COX como Violet Langdon

EVAN PETERS como Ben Addams

ALEXANDRA BRECKENRIDGE como Jessica Addams

GLENN FITZGERALD como Cotton Addams

PIPER PERABO como Mabel Hargensen

RYAN MERRIMAN como Blake Morgan

JESSICA LANGE como Dianne Addams

 

ATORES CONVIDADOS

 

LAUREN COHAN como Alicia Perry

DAKOTA GOYO como Ryan Florrick

JAMIE ANNE ALLMAN como Danielle

 

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

 

BRANDON JONES como Kenny Allen

TONY PLANA como François

 

MÚSICAS DO EPISÓDIO

 

VOICES OF LIGHT: V. PATER NOSTER by Various

HELEN’S THEME by Michael Riesman and Western Wind

BUCKET OF BLOOD (CARRIE) by Pino Donaggio

BLUE VELVET by Lana Del Rey

I PUT A SPELL ON YOU by Screamin’ Jay Hawkins

YELLOW SUBMARINE by Beatles

AMENO by Era

TONIGHT YOU BELONG TO ME by Patience and Prudence

SWEET DREAMS by Marilyn Manson

CENA 27. MANSÃO DOS ADDAMS. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

 

Dianne desce a escadaria, colocando um pouco de perfume. Na sala, Letitia, também arrumada, termina de colocar a gravata em Ben. O fotógrafo posicionado perto dali, com aquelas clássicas câmeras antigas montada em um tripé.

 

DIANNE – Cotton está descendo em um minuto. Eu já estou pronta. (PÕE A MÃO NA CINTURA) Gostaram?

 

LETITIA – Lindo, minha sogra.

 

BEN – (PARA LETITIA) Ficou bom? (MEXE NA GRAVATA) Hum?

 

LETITIA – (BEIJA) Está ótimo, filho. Você parece um príncipe!

 

LAWRENCE – (SAI DO ESCRITÓRIO) Podemos começar logo com isso?

 

LETITIA – A Jessica ainda não chegou e o seu irmão ainda está se aprontando. Aguardemos um tempo.

 

LAWRENCE – Jessica não tinha ido até a empresa do Blake? Que demora é essa?

 

LETITIA – Não sei Lawrence! Está com tanta pressa assim? Não pode esperar um pouco pela sua filha?

 

LAWRENCE – É que eu tenho paciente marcado para daqui a meia hora, não posso me atrasar.

 

LETITIA – (SE IRRITA) Então vá Lawrence, pode ir, a gente tira a foto sem você e depois faz uma colagem.

 

DIANNE – Vamos acalmar os nervos?

 

LETITIA – (ALTO) Não, não vamos acalmar coisa alguma! Você está vendo Dianne, seu filho está agindo como um idiota.

 

DIANNE – (BAIXINHO) Assim como o pai dele.

 

LAWRENCE – Eu estou agindo como um idiota? Você é que está se descontrolando!

 

LETITIA – Está agindo como um idiota sim! Você nem liga para sua família Lawrence, só pensa no seu trabalho, você nem liga se a sua filha vai chegar ou não em casa, se ela está bem, se ela está morta!

 

LAWRENCE – (APONTA) Você não vai conseguir me desestabilizar.

 

LETITIA – Hoje fizeram 25 anos da morte da nossa Amy e eu estou me esforçando para fazer tudo parecer normal, eu inventei toda essa história de fotografia para tentar maquiar a dor da morte dela e você nem sequer me deu uma palavra de carinho, Lawrence! Pelo contrário! Você esqueceu!

 

LAWRENCE – A menina morreu ao nascimento!

 

LETITIA – (GRITA) Não interessa! (COMEÇA A CHORAR) Ela é minha filha! E mesmo que ninguém se importe eu sempre vou me importar! Sempre!

 

Letitia desprende o cabelo.

 

LETITIA – Pra mim esse circo termina aqui. Tirem a foto vocês. E se perguntarem sobre mim daqui a alguns anos, digam que eu morri.

 

Letitia encara todos da sala e sobe chorando para os quartos. Dianne faz sinal para Lawrence, que vai atrás de Letitia. O fotógrafo, que estava mais afastado, tira uma foto e Dianne vê.

 

DIANNE – O que está fazendo?

 

FOTÓGRAFO – Estou trabalhando!

 

DIANNE – Pare já com isso! Aposto que deve estar se divertindo com o barraco de família, né? Sempre odiei fotógrafos, eles sempre me deixam gorda nas fotos! Algum dia ainda inventarão algo que nos deixe mais magras que Marilyn Monroe. Oportunista!

 

Dianne empurra a câmera móvel do fotógrafo e deixa-a quebrar no chão. Dianne dá de costas e sai.

 

CENA 28. MANSÃO DOS ADDAMS. QUARTO DE LETITIA. INT. DIA.

 

Letitia entra seguida de Lawrence, bastante agitada.

 

LAWRENCE – Letitia, espera! Que escândalo foi esse que você acabou de fazer na frente da família toda?

 

LETITIA – Me deixa Lawrence, me deixa! Eu não quero falar com ninguém, muito menos com você.

 

LAWRENCE – Mas o que foi que eu fiz?!

 

LETITIA – O que você fez? Nada! Esse é o problema! Você não fez nada! A minha filha, ou melhor, a nossa filha morreu e você age como esse fato não significasse nada pra você. Mas pra mim significa! Eu tenho sentimentos, eu sou humana.

 

LAWRENCE – Isso já foi há tanto tempo Letitia! Você tem que passar por cima disso, ninguém sofre por 25 anos.

 

LETITIA – Uma mãe sofre a vida toda pela perda de um filho.

 

LAWRENCE – Então o que você quer? Eu não entendo! Que eu me descabele em lágrimas de crocodilo por algo que não sinto?

 

LETITIA – Eu quero ser feliz Lawrence!

 

LAWRENCE – Feliz? Mas você é feliz! Nós somos felizes!

 

LETITIA – Onde somos felizes, querido? Me diga, vai. Mostre-me onde mora a felicidade nos muros dessa casa. Todo mundo aqui sabe que a família Addams vive de aparências! Assim como você!

 

LAWRENCE – Você não pode me acusar de nada.

 

LETITIA – Não seja ingênuo, você acha que eu não sei do jogo sujo que você promove com seus pacientes? Tráfico de órgãos? Você sabe o quão horrível é isso?

 

LAWRENCE – (GRITA) Chega!

 

LETITIA – Aí está ele. Finalmente, depois de tanto tempo, eu vejo quem você é. Você não suporta ser confrontado pelos seus pecados, não é? Anda, me bate!

 

LAWRENCE – (PEGA NO BRAÇO DELA) Você quer ser feliz, é? Pois seja feliz. Faça suas malas e dê o fora da minha casa. Vá até a polícia, me denuncie. Está esperando o que? Abandone sua vida, sua família.

 

LETITIA – (COMEÇA A CHORAR) Eu não posso...

 

LAWRENCE – Ah, agora você caiu em si, não foi? Perdeu a máscara, Letitia? Você sabe que você não pode fazer isso! Mas se quiser, pode ir. Se for eu que te impeço, te dou o passe livre. (RI) Só que vai ser uma pena, por que você vai ter que voltar a morar na rua. Na rua! Foi de lá que eu te tirei. Eu te dei uma vida, sua cachorra! Esqueceu? Essas jóias, esse conforto que você desfruta fui eu que paguei com meu dinheiro! Com meu prestígio de médico! Quer desistir de tudo pra “ser feliz”? Desista! Duvido que você dure uma semana.

 

Letitia baixa a cabeça e chora. Lawrence segura o rosto dela com uma das mãos e a encara.

 

LAWRENCE – Quer saber da verdade? Felicidade é uma mentira. Ela não existe. É algo criado para enganar os tolos e idiotas. Mas se você quiser acabar comigo, pode acabar. Só quero que entenda as conseqüências. (PAUSA) Você tem duas alternativas, Letitia. Ou você veste a sua máscara e comanda esse poleiro comigo, ou se torna apenas um cacarejo inútil. Você está certa sobre meu “jogo” com meus pacientes. Saiba que não será difícil pra eu acabar com você. (PAUSA) Então, o que você escolhe?

 

Letitia seca as lágrimas com os braços e força um sorriso pro marido. Lawrence a abraça e acaricia seus cabelos.

 

LAWRENCE – Eu sabia... (SE LEVANTA) Agora lava essa cara e desce que eu estou te esperando lá embaixo. Vamos tirar a maldita foto.

 

LETITIA – Não vou tirar foto sem a Jessica.

 

LAWRENCE – Ela vai chegar, não se preocupa, só lave o rosto. A esposa de Lawrence Addams não pode andar nesse estado lamentável.

 

Lawrence força um selinho na esposa e sai do quarto. Letitia desaba em choro novamente e se deita na cama, agarrando o travesseiro. Close em Letitia.

 

CENA 29. PENHASCO. INT. DIA.

 

O carro de Jessica estacionado na frente de um enorme penhasco, com o rádio ligado. Sentada no banco do motorista, Jessica ouve alguma música, fuma um cigarro de maconha e bebe uma garrafa de uísque. Ela escora a cabeça contra a direção e aciona a buzina. Jessica chora um pouco e dá mais uma tragada no cigarro.

 

JESSICA – Canalha. Cafajeste! Mercenário! Como que ele pode fazer isso comigo... (BEBE UM POUCO DE UÍSQUE) Idiota! Todo mundo sempre disse que ele não valia nada, mas a imbecil apaixonada resolveu seguir o coração. Coração! Coração não serve pra nada, só machuca. (PAUSA) Que vergonha... Ainda mais com aquela mulher.

 

Jessica bebe as últimas gotas da garrafa e se sente tonta. Ela olha para o freio de mão do carro e coloca sua mão sobre ele. Sonoplastia de tristeza. Jessica destrava o freio de mão e o carro começa a andar, em direção a beira do desfiladeiro. Close em Jessica. CORTA PARA o carro de Jessica despencando lá de cima, e desabando dentro de um rio. O carro vai afundando até que não possa mais ser visto. CORTA novamente para a beira do desfiladeiro. Jessica continua lá, e observa a queda de seu carro. Ela joga o cigarro fora.

 

JESSICA – (FIRME) Esse bandido há de pagar.

 

Close em Jessica.

 

CENA 30. IGREJA. ALTAR. INT. DIA.

 

 

 

Câmera abre na luz forte de uma vela. Se afasta e mostra Cotton ajoelhado no altar, com as duas mãos cruzadas, fazendo uma oração.

 

COTTON – (FECHA OS OLHOS) Eu vim pedir perdão, meu Deus. Eu fiz uma coisa horrível. Eu venho fazendo uma sequencia de coisas horríveis. O Diabo ele... ele veio até mim em forma de uma mulher e me seduziu. E eu não soube controlar aos prazeres da carne, eu fui fraco, eu não rejeitei o chamado dele. Senhor, talvez eu não seja digno de vestir essa batina, de pregar a sua palavra. Mas ao mesmo tempo eu sei que eu ainda tenho muito para ensinar e aprender. Dê-me uma luz, me mostre o caminho, me ajude a enfrentar esse mal. Eu sei que isso pode ser uma grande prova para que o Senhor saiba da minha integridade e lealdade a ti, mas me livre desse mal. (PAUSA) Essa criança que vai nascer Senhor... Não pode ser minha. Não pode.

 

Cotton faz o sinal da cruz. Close em Cotton.

 

CENA 31. CALÇADA. EXT. DIA.

 

Ben anda tranquilamente com as mãos nos bolsos, assoviando, quando um cachorro pequeno, da raça maltês, corre até os pés dele, preso na coleira. Ben se abaixa e faz carinho no animal.

 

BEN – (AMOROSO) Ei, rapaz, de onde você veio? Se perdeu da sua família? (ALISA) Que lindo que você é! Qual seu nome?

 

MENINO – (EM OFF) Gary!

 

Ben segura na coleira do cachorro e se levanta. Vê um menino de aproximadamente 12 anos saindo da casa ao lado e correndo até ele.

 

MENINO – (PARA O CACHORRO) Gary! Que susto que você me deu! Onde se meteu?

 

BEN – É você o dono desse cachorrinho lindo?

 

MENINO – Sim, sou eu. Obrigado por encontrá-lo, Senhor, eu e Gary somos muito amigos e eu achei que o tinha perdido.

 

BEN – Ah, sim, você deve ser filho da nova família que se mudou. Eu moro na casa ao lado, na mansão.

 

MENINO – Nossa, sua casa é muito bonita. Eu até que gostei desse bairro, mas preferia ter ficado em Dallas, deixei todos os meus amigos lá.

 

BEN – Mas pense, agora você vai poder fazer novos amigos, já viu que legal? E começou bem, por que já fez um. Meu nome é Benjamin, mas todo mundo me chama de Ben.

 

MENINO – Muito prazer, meu nome é Ryan. Ryan Florrick.

 

BEN – Ryan... Belo nome. Assim como o cachorro.

 

RYAN – Bom, mais uma vez eu agradeço pela ajuda moço, mas agora tenho que ir. Minha casa está uma bagunça e eu ainda tenho de arrumar o meu quarto.

 

BEN – Foi muito legal te conhecer, Ryan.

 

RYAN – Também gostei muito de te conhecer.

 

BEN – Não sei por que, mas eu tenho a sensação que eu e você ainda teremos uma bela amizade juntos?

 

RYAN – Tomara!

 

 

 

Ryan pega o cachorrinho e sai correndo para sua casa. Ben observa o menino ir embora e sorri, com um ar de malícia. Plano geral da cena.

 

 

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